Política de ‘sim, senhor’ com os EUA é passado, diz assessor de Lula

O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse nesta quinta-feira em Buenos Aires que a política do “sim, senhor” do Brasil com os Estados Unidos faz parte do “passado” e criticou o governo americano por ter defendido sanções contra o Irã no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

“Acho que se criou no Brasil a expectativa de que a única relação (com os Estados Unidos) é a do ‘sim, senhor’, mas não é assim. Na política externa há confronto de interesses que são diferentes. A diplomacia existe justamente para organizar isso”, disse Garcia, que participou nesta quinta-feira de um seminário sobre globalização na capital argentina.

O assessor da Presidência, no entanto, afirmou que o Brasil não está “bravo” com os Estados Unidos após a aprovação das sanções contra o Irã e disse que as relações entre os dois países “nunca estiveram tão boas”.

“Tivemos uma divergência. O problema é que, no passado, era a política do ‘sim’, do ‘sim, senhor’. A gente achava que tudo tinha que ser resolvido em acordo com os Estados Unidos. Quando não havia acordo, ficávamos preocupados”, disse.

“Nós temos uma agenda de cooperação muito grande. Nós vamos continuar dialogando e, sempre que tivermos diferenças, vamos dizer”, afirmou.

Na última quarta-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma nova rodada de sanções contra o Irã devido a seu programa nuclear.

A medida contou com o apoio dos Estados Unidos e dos outros membros permanentes do Conselho. Brasil e Turquia, membros rotativos do órgão, se colocaram contra a retaliação por avaliarem que ela impede uma solução diplomática para a questão.

‘Ganhador moral’

Comentando a aprovação do novo pacote de sanções, Garcia afirmou acreditar que as medidas de retaliação não terão sucesso em frear o programa nuclear iraniano, que parte da comunidade internacional acredita ter o objetivo de construir armas atômicas, o que é negado por Teerã.

“Se o objetivo disso (das sanções) era frear o programa iraniano, para fins pacíficos, ou para qualquer fim, vai dar exatamente o contrário”, disse Garcia, que ainda afirmou que o Brasil sai como “ganhador moral” na polêmica sobre as sanções e os EUA como “perdedores morais”.

Em entrevista a repórteres brasileiros, Garcia também afirmou que esperava que o governo do presidente Barack Obama trouxesse mudanças à política externa americana, mas que isto “não está ocorrendo”.

“Nós tínhamos expectativa de que haveria uma inflexão do governo Obama e estamos vendo que esta inflexão não está ocorrendo, pelo menos na velocidade e na consistência que esperávamos”, afirmou. BBC Brasil – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Rizzolo: É claro que aquela política de subserviência aos EUA, aquela de tirar os sapatos na época de FHC, não mais existe. Hoje a relação diplomática entre Brasil e EUA é de respeito mantendo-se a soberania de cada um. Não há interesse brasileiro em um confronto com os EUA, longe disso, existem sim diferentes pontos de vista, e uma expectativa do Brasil de uma maior inflexão de Obama sobre os assuntos internacionais. Contudo continuo entendendo que a postura brasileira de alinhamento com o Irã não foi e nunca será proveitosa do ponto de vista das relações internacionais. Aí vão dizer: Ah! mas é porque o Rizzolo é judeu, até já estou vendo..nada disso, apenas bom senso..



Com sanções, Ahmadinejad cancela acordo nuclear com Brasil e Turquia

Antes mesmo de oficializadas as sanções contra o Irã pelo Conselho de Segurança da ONU, o presidente Mahmoud Ahmadinejad informou que o acordo fechado em 17 de maio com o Brasil e a Turquia estaria cancelado se a pena fosse aplicada.

Na ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, assinaram junto com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, um acordo segundo o qual o Irã entregaria 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido em troca de combustível nuclear especial para um reator de pesquisa médica para tratar pacientes com câncer. A ideia seria reduzir o estoque iraniano de material nuclear enriquecido e viabilizar o uso pacífico da tecnologia, o que demonstraria a boa vontade do regime islâmico.

Antes do início da reunião do Conselho de Segurança, os Estados Unidos rejeitaram o acordo nuclear.

O acordo trilateral “não leva em conta o fato de que o Irã não cumpre com suas obrigações de não-proliferação (nuclear)”, afirmou Glynn Davies, durante seu discurso no plenário do Conselho de Governadores da AIEA em Viena. Davis destacou, no entanto, hoje que o novo acordo “deixa o Irã com reservas substanciais (de urânio), o que reduz a confiança da proposta original”.

As potências ocidentais afirmam que o acordo Irã-Brasil-Turquia ressuscita uma oferta similar feita pela AIEA e não atende dúvidas-chave sobre o programa nuclear iraniano, que eles afirmam ter o objetivo de desenvolver armas atômicas, o que o Irã nega.

Uma das principais preocupações ocidentais é com o crescimento do estoque de urânio de baixo enriquecimento e com o anúncio do país de que continuará enriquecendo urânio em um grau maio, independentemente do acordo mediado pelo Brasil.

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Rizzolo: Até entendo a boa intenção do governo Lula em promover o entendimento entre o Irã e os demais países, mesmo porque os EUA e a Europa sabiam da tentativa e não se opuseram. Contudo, do ponto de vista da política externa, o Brasil jamais deveria insistir nessa aproximação com o Irã, uma vez que o Ocidente todo desaprova, condena e adverte; isso significa a meu ver, um viés equivocado da política externa brasileira na condução de um assunto tão delicado: a não proliferação nuclear. Sabemos da condição de peso atualmente do Brasil nas relações internacionais, mas se envolver num assunto tão controverso é sempre complicado e pode trazer mais desvantagens do que prestígio internacional. Apenas uma observação, minha opinião nada tem a ver com a minha condição judaica, e sim no âmbito das relações internacionais.