Fatores externos fazem inflação recuar, não os juros de Meirelles

Assim com aumentaram, os preços dos alimentos caíram pela ação dos especuladores em Chicago

A queda geral da inflação, confirmada por todos os índices, impõe, necessariamente, uma conclusão: “esse recuo da inflação nada tem a ver com os aumentos da taxa básica de juros conduzidos pelo Banco Central desde abril”, como disse em uma de suas análises o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), uma entidade de empresários. Ou, nas palavras do ex-ministro Delfim Netto – “Uma coisa é certa: se a inflação voltar à meta de 4,5% no início de 2009 não será devido à ‘tempestiva precipitação’ [do BC], mas a fatores externos, a não ser que seja o aumento de juros no Brasil que está derrubando o preço das ‘commodities’ em Chicago…”.

Delfim refere-se à última ata do Comitê de Política Monetária do BC (Copom), onde se diz que “a estratégia adotada visa trazer a inflação de volta à meta central de 4,5% tempestivamente”. Em seguida, afirma-se que o aumento de juros só agirá sobre a inflação no fim deste ano e no início do próximo.

O aumento localizado da inflação teve origem externa. A queda atual, também. Os aumentos de juros do BC tiveram como efeito perturbar o crescimento e promover um charivari no câmbio, prejudicando o saldo comercial, portanto, as contas externas. Mas eles nada tiveram a ver com a queda da inflação. Têm a ver com a drenagem de recursos do Tesouro para os bancos, principalmente os externos, via juros – além da intenção de facilitar a vida dos tucanos na eleição de 2010, freando o crescimento implementado pelo presidente Lula.

O preço dos alimentos – principal setor onde houve aumento da inflação – começou a cair porque os especuladores, centralizados na Bolsa de Chicago, começaram a se livrar dos papéis lastreados neles, por medo de que daqui a pouco não possam vendê-los por preço maior do que aquele pelo qual os compraram.

A especulação nas “bolsas de futuros”, onde se aposta qual será o preço de tal ou qual alimento depois de um determinado prazo, tem sido um dos principais, senão o principal fator que tem catapultado esses preços para o espaço sideral, já que nesse cassino jogam os próprios monopólios que dominam o comércio mundial desses produtos, assim como os bancos vinculados a eles.

A queda dos preços que se verifica no momento corresponde à banal lógica da especulação: compram-se títulos quando seus preços estão baixos para vendê-los quando seus preços atinjam o máximo possível. O problema é que ninguém sabe por antecipação quando é o momento do “preço máximo”, porque especuladores não são adivinhos. Mas se alguns desconfiam que chegou esse momento, ou está próximo, começam a vender seus papéis – e os colegas de ofício os acompanham, apavorados com a perspectiva de serem os últimos, ou seja, de ficarem com o mico na mão sem ter a quem vendê-lo ou tendo que vendê-lo abaixo do preço pelo qual foram comprados.

Daí a queda atual nos preços dos alimentos, depois de uma contínua alta nos últimos anos – e principalmente nos últimos meses, após a erupção da crise norte-americana das hipotecas, quando muitos especuladores fugiram dos títulos lastreados nelas, querendo compensar as perdas com os papéis lastreados nos alimentos.

Assim são, enquanto o país não estabelecer mecanismos de proteção, as elevações e quedas da especulação mundial – a manipulação dos especuladores faz com que os preços se elevem e depois caiam, com alguns se dando bem e a maioria se retirando, provisória ou permanentemente, para a rua da amargura. Aliás, numa dessas Meirelles foi “aposentado” da presidência do BankBoston, depois que, na crise argentina de 2001, deixou o banco e seus clientes ficarem com o mico na mão. Mesmo com De la Rua fazendo jus ao seu nome, ele achava que tudo voltaria a ser como dantes na grande nação do Prata…

CARLOS LOPES
Hora do Povo

Rizzolo: O excelente texto do jornalista Carlos Lopes, desnuda o que realmente ocorre com a questão inflacionária no Brasil. Não resta a menor dúvida que o componente externo é sim o fator preponderante na queda da inflação, de fato, os especuladores da Bolsa de Chicago, começaram a se desfazer dos papéis vinculados a algumas commodities relacionadas aos alimentos, fazendo o preço cair. A política monetária do Banco Central serviu apenas para emperrar ainda mais o desenvolvimento do País e de certa forma contribuir para uma maior especulação interna, alem de criar obstáculos às exportações face ao real valorizado. O mais interessante é o silêncio de Meirelles e do Copom desde que a inflação começou a ceder.

Commodities caem e País deve rever estratégia comercial

GENEBRA – A queda nos preços das commodities pode obrigar o Brasil a rever sua estratégia para manter um superávit em sua balança comercial. Dados coletados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) sugerem que a queda nos preços dos bens agrícolas pode reduzir “de forma substancial” o superávit brasileiro.

Para deixar a situação dos exportadores brasileiros ainda mais difícil, a Europa acaba de anunciar que terá uma safra que pode bater recordes em 2008, o que deve fazer com que os preços caiam ainda mais.

“O que estamos vivendo é uma correção nos preços das commodities, que estavam altos”, explicou Michael Finger, chefe da divisão de estatísticas da OMC.

“Com a alta de preços, muitos consumidores deixaram de comprar nos volumes que estavam acostumados, principalmente nos países ricos onde a desaceleração da economia é clara. O resultado é que o mercado se auto-regulou e os preços voltaram a cair”, explicou Finger.

Segundo a análise da OMC, mais da metade da alta registrada nas exportações nacionais nos últimos meses ocorreu graças aos preços, e não ao volume exportado.

O mesmo já havia ocorrido em 2007. No ano passado, o País registrou um crescimento das exportações de 17% em valor, com US$ 161 bilhões. Em volume, porém, o Brasil teve uma alta de suas vendas de apenas 6,9% em 2007.

Commodities salvaram as exportações

Nos primeiros quatro meses do ano, a alta nos preços das commodities salvou as exportações brasileiras e permitiu que o País tenha uma taxa de crescimento em 2008 acima dos índices da China, pela primeira vez em décadas. Em janeiro, as exportações tiveram alta de 20,9%, contra 26,4% em fevereiro. Na China, a alta foi de 21% nos dois primeiros meses.

Mesmo com essa expansão, o superávit já vinha caindo diante do crescimento das importações, uma das maiores entre as principais economias do mundo nos últimos seis meses.

Agora, sem o fator preço, o cenário promete ser bem diferente. “A expansão das exportações brasileiras pode não ocorrer nas mesmas taxas. O pico nos preços das commodities pode ter passado”, afirmou Finger.

Safra

Outro fator que deve atrapalhar as exportações brasileiras deve ser a retomada da boa safra na Europa em 2008. “Os produtos, incentivados pelos preços, plantaram mais e as perspectivas de safra na Europa são muito boas neste ano”, disse Finger.

Segundo dados da União Européia (UE), a safra de alimentos neste ano será 16% superior à de 2007. No ano passado, o clima pouco propício foi um dos motivos que levou à alta nos preços dos alimentos. Mas a previsão de 2008 está ainda bem acima da média de crescimento da safra nos últimos cinco anos. Em comparação à média da década, a alta é de 9%.

No setor de trigo, a safra deve ser 10,4% superior em 2008 em comparação a 2007. Em relação aos últimos cinco anos, a alta é de 6,1%. A produção de milho será 20,1% maior neste ano em comparação a 2007. O açúcar de beterraba deve sofrer um incremento de produção de 19% em relação aos últimos cinco anos, principalmente na Alemanha e França. “O resultado desse novo cenário pode ser uma queda substancial no superávit brasileiro”, disse Michael Finger.

Representando apenas 1,2% do comércio mundial, o Brasil precisaria se concentrar em garantir uma maior competitividade de seus setores produtivos para não depender os preços dos produtos de base. “A bonanza nos preços das commodities não duraria mesmo para sempre”, disse Finger.

O alerta se refere principalmente os impactos do real valorizado para as exportações dos produtos fora do setor agrícola. Para a OMC, o Brasil precisa tomar medidas para garantir maior competitividade, melhor infra-estrutura e produtividade para compensar o câmbio.

Ranking

O resultado, por enquanto, é que o País continua patinando no ranking dos maiores exportadores do mundo. Mesmo que tenha subido uma posição – ocupa hoje a de número 23 – e incrementado sua fatia no comércio internacional em 0,1% em um ano, a participação de 1,2% no mercado mundial é inferior às taxas apresentadas pelo País em décadas passadas. Países relativamente pequenos como Áustria, Suécia e Suíça continuam com maior participação no comércio mundial que a economia brasileira.

Agência Estado

Rizzolo: O fato do preço das commodities cair, é extremamente preocupante, haja vista o fato de que com o dólar valorizado, não temos competitividade nas exportações a não ser face à demanda dos produtos elencados nas commodities. Depender exclusivamente ou em grande parte as exportações nas commodities, é algo preocupante que este Blog já há tempos vem comentando.

A perversa política de alta dos juros impede a competitividade da indústria de manufaturados no Brasil, e transforma o País num imenso Cassino. Agora, com a inflação caindo, esses juros na estratosfera, e os preços das commodities em queda, a situação fica do ponto de vista econômico perigosa terá forte impcto no superávit brasileiro.