O bode de bigode – Coluna Carlos Brickmann

Dizem que, em jornalismo, notícia é o fato incomum – por exemplo, um homem morder um cachorro. Não é bem assim: o caro leitor pode ver que se noticiam os escândalos do Senado como se fossem incomuns, ou como se tivessem sido descobertos agora. Mas nada é novidade: a imprensa sabia de tudo, ou devia saber. Pois José Sarney já não foi presidente da República e, como presidente, não distribuiu à vontade concessões de rádio e TV?

E não é só Sarney, não: como diz Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp, nossos políticos agem “como se fossem proprietários da coisa pública”. Sarney deu emprego ao namorado da neta; Fernando Henrique, ao marido da filha (que, ao separar-se, deixou o cargo); e, há mais tempo, o governador mineiro Benedito Valadares arranjou um cartório como presente de casamento para o genro, o escritor Fernando Sabino (que, ao separar-se, devolveu o cartório). E, procurando bem, muita gente está ou esteve na boquinha – gente que não é parlamentar mas usou o serviço médico do Congresso, editou livros pela Gráfica do Senado, e periodicamente escolhe um bode expiatório para purgar os pecados de todos.

Muitos se locupletam e querem que a moralidade seja mantida como fachada. É difícil atingir o Bode de Bigode: o senador Gim Argello, ligadíssimo ao Governo, já lhe mandou o recado de que tudo vai dar certo. Se não der, tudo bem: é complicado defendê-lo. E os outros vão continuar na festa.

Por debaixo dos panos

Um detalhe está passando despercebido: o tiroteio se voltou exclusivamente contra Sarney. Não que ele não mereça, mas por que só ele? Os cento e tantos diretores do Senado, os oitenta e tantos funcionários que atendem a cada senador, os empregados que recebem do Congresso e trabalham na casa de Suas Excelências, em Brasília, nos Estados ou até fora do país, as passagens internacionais para senadores, parentes e amigos, a investigação das cumplicidades dos atos secretos, tudo silenciou.

O sub do sub

Acredite; e, se não acreditar, confirme pessoalmente neste endereço. No Gabinete Pessoal do Presidente da República, existe um chefe de gabinete do chefe do Gabinete. O sub do sub se chama Diogo de Sant’Ana.

O super-prefeito

João Castelo, do PSDB, prefeito de São Luís do Maranhão, ganha R$ 25 mil mensais – R$ 500,00 acima do teto do serviço público. É mais do que ganha um ministro do Supremo. Castelo, aliás, sempre custou caro: foi ele, quando governador, que ergueu o estádio de São Luís, modestamente batizado de “Estádio Governador João Castelo”. É tucano, mas não muito: ficou no partido que o aceitou quando seu líder Sarney rompeu com ele.

Olha a carteira!

Prepare-se: para financiar gastos como os descritos nas duas notas acima, aliados do Governo devem voltar com a idéia da CPMF neste segundo semestre. A desculpa é a de sempre: novas fontes de recursos para a Saúde.

Ciro a sério

O presidente Lula pediu ao PT paulista que leve Ciro Gomes a sério. O presidente manda e o PT segue suas determinações. Os petistas de São Paulo vão levar a candidatura de Ciro Gomes a sério assim que pararem de rir.

A falta que Jânio faz

Fernando Henrique, nascido no Rio mas politicamente paulista, era candidato a prefeito contra Jânio Quadros. Jânio o fulminou, lembrando que Fernando Henrique “nem sabe onde fica Sapopemba”. E ganhou a eleição.

Sem piloto

Não leve a sério as notícias de que Solange Vieira, presidente da Anac, Agência Nacional da Aviação Civil, estuda a reformulação de rotas para pousos e decolagens no Rio, para evitar que a população de bairros elegantes seja incomodada com o barulho. É jogo para a torcida, já que a Anac não tem poder legal para definir rotas. Quem cuida disso é o Decea, Departamento de Controle do Espaço Aéreo, ligado ao comando da Aeronáutica.

Negociação fácil

Se alguém esperava encontrar um interlocutor difícil no presidente do Paraguai, Fernando Lugo, enganou-se: o presidente Lula descobriu a maneira mais fácil de negociar com ele. Foi só ceder em tudo e concordar com todas as reivindicações paraguaias. A energia de Itaipu, principal ponto de discórdia, será vendida ao Brasil pelo triplo do preço atual. E o Paraguai deixa de se submeter às cláusulas do Acordo de Itaipu que o obrigam a vender a energia à Eletrobrás: se o preço do mercado livre for maior, pode vendê-la a qualquer empresa brasileira. Pronto: a reunião entre os presidentes de Brasil e Paraguai se realizará em clima de festa e confraternização.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

O Blog da Petrobras e os discursos do presidente

Uma das características do Presidente Lula é a sua capacidade pessoal de falar com o povo à sua maneira: de forma simples e objetiva, o que facilita a compreensão da maior parte do povo brasileiro. Sua fala é quase um dialeto, enriquecido com exemplos populares, o que de certa forma, empresta ao seu discurso um colorido pessoal, familiar e popular.

As velhas formas intelectualizadas e reflexivas que fizeram dos presidentes anteriores, líderes mais distantes do povo, agora dão lugar a uma nova linguagem: a linguagem popular e descontraída. Difícil será aos demais candidatos aprenderem tal dialeto, que tem na sua formação e exegese , a vivência dos pobres do dia-a-dia, as expressões calcadas nos conflitos oriundos das relações empregado-empregador, e na espontaneidade das risadas no chão de fábrica, nas horas vagas dos operários.

Da mesma forma, os jovens se comunicam de modo específico; absorvem as notícias rápida e objetivamente e passam a maior parte do seu tempo disponível, na Internet. Nesse esteio de pensamento, unindo uma linguagem clara e dirigida ao público jovem com um instrumento aceito no meio digital – os blogs – a Petrobras decidiu publicar as perguntas que lhe são formuladas por escrito pela imprensa, bem como as respostas dadas.

A imprensa não gostou. Entende que tal atitude intimida jornais e jornalistas quebrando a confidencialidade que deve orientar a relação destes com suas fontes. Fica patente que em face aos fatos que legitimam o uso de novas tecnologias, a Petrobras agiu bem, contudo, há de se reconhecer que em função de uma CPI, subtrair ou desconsiderar o papel da imprensa e dos jornalistas de uma forma geral é desacreditar em profissionais categorizados, desqualificando os demais meios de comunicação que não sejam os próprios, uniformizando o noticiário e restringindo o debate.

Os jovens, o povo brasileiro e os leitores, devem obter nas notícias conteúdos de cunho crítico e reflexivo e isso, só a imprensa como um todo, pode oferecer. Os blogs, jornais, noticiários, devem, de forma conjunta, extrair o rico conteúdo das informações e processá-las de forma ampla, para que a linguagem seja cada vez mais acessível e apropriada a todos tipos de leitores, amplificando a essência crítica que é um dos pilares da democracia e transformando-a numa dialética do pensar, assememlhando-se, assim, assim aos discursos do Presidente: de fácil compreensão, rico em exemplos, abrangendo os pobres e os eruditos.

Fernando Rizzolo