Entre um trabalho e outro

*Por Yanki Tauber

Você entra apressadamente na sala de espera, com quinze minutos de atraso. Isso é intencional: você está tentando reduzir aqueles minutos desperdiçados na sala de espera. Porém uma breve conversa com a recepcionista revela, para sua consternação, que você chegou, por engano, 35 minutos adiantado…

Você perde sua conexão, e o próximo vôo disponível parte na manhã seguinte. Enquanto se registra no hotel do aeroporto, passa pela sua cabeça o pensamento de que jamais esteve antes nessa cidade. O que fazer agora? Algumas compras? Uma caminhada pelo centro? Passar a tarde no quarto pondo o trabalho em dia?

Você está num impasse. Já há algum tempo, tem percebido que não é isso que deseja fazer com sua vida, e é inevitável que seu chefe logo perceba também. Você está explorando diversas possibilidades, mas demorará um pouco até que qualquer delas se materialize. Então, você tem à sua frente uns bons meses de rotina massacrante (e isso na melhor das hipóteses…)

Nos vivemos em dois tipos de tempo: tempo real e tempo intermediário. No tempo real, seguimos com nossa vida: carreira, relacionamentos, família e interação social. Porém existe o tempo da sala de espera, o tempo no aeroporto, o tempo entre dois trabalhos. O truque é aproveitar ao máximo o tempo real e reduzir o tempo intermediário ao mínimo possível.

Não é bem assim, diz o Lubavitcher Rebe. Segundo o Rebe, existe apenas um tipo de tempo. Há jornadas longas e jornadas curtas, há trabalhos grandes e pequenos, existem oportunidades óbvias e situações nas quais coçamos a cabeça e nos perguntamos: O que estamos fazendo aqui? Mas todo o tempo é real; cada momento é crucial. Todo segmento de nossa vida, não importa quão efêmero ou temporário, tem um centro, um propósito, um objetivo.

Em uma de suas cartas, o Rebe explica seus fundamentos para esta opinião: a história das viagens de nossos ancestrais através do Deserto do Sinai.

O Livro de Bamidbar descreve como os Filhos de Israel acamparam e viajaram no deserto. Bem no centro do acampamento israelita ficava o Mishcan, o Santuário portátil que abrigava a Divina Presença. Ao redor do Mishcan estavam as tendas dos Cohanim e Levitas, que serviam no Santuário. E além do acampamento Levita ficavam, como os raios de uma roda, as tendas comunitárias das doze tribos de Israel – três tribos a leste, três ao sul, três a oeste e três tribos ao norte.

Acima do Mishcan pairava uma nuvem, significando a Divina Presença que ali habitava; quando a nuvem se erguia, era o sinal de que estava na hora de seguir adiante. Não havia um período preestabelecido para cada acampamento. As vezes a nuvem – e o povo – ficavam estacionados por um ano, e às vezes por uma única noite. Sempre que a nuvem se levantava, o povo se punha a caminho.

Dissemos que o Mishcan era portátil. Mas não era uma pequena tenda dobrável. Este fabuloso edifício incluía quarenta e oito paredes de 6 metros, cem bases com 70 quilos cada, mas de duas dúzias de enormes tapeçarias, e numerosos pilares, prendedores, revestimentos e utensílios. Era necessário uma equipe de 8.580 Levitas para desmontar, transportar e montar o Mishcan a cada vez que o povo se mudava.

E a Torá enfatiza que todo o processo se repetia a cada vez que o povo viajava, incluindo aquelas vezes em que acampavam por uma única noite. A cada vez, o Mishcan era erigido e 600.000 famílias montavam suas tendas na formação prescrita ao seu redor.

Assim, o povo sabia que nunca estavam apenas “atravessando” ou “matando tempo” em uma conjuntura específica na jornada. Cada acampamento, não importa o quanto fosse breve ou temporário, deveria ter seu centro, seu foco, seu objetivo: sua própria maneira distinta de fazer D’us Se sentir em casa junto deles.

fonte: site do Beit Chabad

Tenha um sábado de paz !

Fernando Rizzolo

A Consciência da Liberdade

*Por Rabino Y. Y. Jacobson

Após uma série de pragas que esmagaram o país e subjugaram seu rei, o faraó finalmente se rende. Depois de torturar, abusar e assassinar judeus impiedosamente durante décadas, eles são libertados. No 15º dia do mês hebraico de Nissan, o povo judeu, finalmente, viveu um êxodo em massa de um regime genocida e de uma monarquia tirânica. Eles tinham embarcado no caminho da liberdade.

Mais de três milênios se passaram desde aquele dia. É muito tempo. Porém os filhos e netos dos escravos que partiram do Egito ainda comemoram anualmente este evento. Até hoje, Pêssach continua sendo a Festa mais amplamente observada e celebrada. Muitos judeus que se consideram afastados da tradição e da religião ainda se sentem compilados a participar em algum tipo de Sêder de Pêssach.

A importância disso não pode ser deixada de lado. É fácil celebrar o milagre da liberdade quando você é livre. Porém na maior parte da sua história a nação judaica se viu exilada, oprimida, dominada – física, emocional e religiosamente – por tiranos e ditadores de todos os tipos. Se Pêssach representa a jornada da escravidão à liberdade, o que ocorreu com isso depois da destruição babilônica do Primeiro Templo e o subsequente exílio de Israel? Ou após a conquista pelos gregos e romanos da terra judaica e o exílio de seus habitantes? O que aconteceu com a celebração da liberdade após a destruição do Segundo Templo, o fracasso da rebelião de Bar Kochba, as horríveis perseguições de Adrianus e a longa, trágica série de eventos que levaram ao maior exílio na história judaica? Poderiam os judeus celebrar a emancipação sob circunstâncias opressivas? Poderiam os judeus ainda se sentarem anualmente e declarar com sinceridade: “Fomos escravos do faraó no Egito e D’us nos libertou?”

Liberdade Sob Opressão?
Essa questão foi levantada por um dos maiores pensadores judeus do Século Dezesseis, que foi ele próprio sujeito a horríveis perseguições por parte das autoridades cristãs. Rabi Yehudah Leow (1512-1607), conhecido como o Maharal, foi Rabino Chefe de Praga, e uma das personalidades judaicas mais influentes de sua época, autor de muitas obras importantes sobre filosofia judaica. Durante seus dias, os judeus sofreram terrivelmente com os infames libelos de sangue, sendo acusados de assassinar crianças cristãs antes de Pêssach para usar seu sangue para a matsá de Pêssach, e diz a lenda que Rabi Leow criou um Golem, um homem criado através de poderes cabalísticos para combater os libelos de sangue que afligiam a comunidade judaica de Praga.
O Maharal de Praga perguntava-se (2) como o povo judeu poderia ter celebrado sua libertação do Egito durante os tempos em que estavam mergulhados novamente nas trevas do exílio e perseguição? Um judeu da Palestina no Segundo Século poderia realmente celebrar Pêssach? E quanto ao judeu iemenita do Século Oitavo? Um judeu na Espanha do Século Catorze? Um judeu polonês do Século Dezessete? Ou um judeu alemão em 1938? Um judeu russo na década de 1960?

Porém eles celebraram. Por 3.300 anos, quando chegava Pêssach, uma nação teimosa estava determinada a revivenciar a liberdade. Sob o olho vigilante da Inquisição, no Arquipélago Gulag de Stalin, até no Gueto de Varsóvia, você poderia ouvir a mesma pergunta sendo feita a cada ano: “Por que esta noite é diferente de todas as outras?” E a resposta: “Porque esta noite fomos libertados!”

Como eles conseguiram fazer isto? Eram escapistas irracionais, alheios à realidade? Ou, talvez, o povo judeu estivesse celebrando algo muito autêntico que sentiam na alma a cada Pêssach, apesar das condições muitas vezes insuportáveis que viviam?”

O Novo Homem
A resposta apresentada pelo Maharal de Praga é profunda e comovente (2).

O Êxodo do Egito, sugere ele, não foi meramente um evento político e geográfico, no qual trabalhadores escravos tiveram permissão de deixar o país e construir o próprio destino. Foi também uma mutacão existencial, na qual o presente da liberdade foi “instalado” na própria psique de um povo. Com a Divina libertação do cativeiro egípcio, um novo tipo de pessoa foi criado – o Homem Livre – o indivíduo que jamais concordará com a opressão e que sempre ansiará pela liberdade. O êxodo implantou dentro da alma do judeu uma repulsa inata contra a subjugação e um anseio inerente pela liberdade.

Daí, todo o drama que levou ao Êxodo do Egito: o diálogo com o faraó, os milagres realizados por Moshê e Aharon, o rei se tornando mais obstinado, as dez pragas que subjugaram o Egito, e finalmente a luxuosa cerimônia do sêder realizada enquanto ainda estavam no Egito. Numa era em que opressão era a norma, quando os reis acreditavam ter poder divino e infinito, e o ser humano comum estava à mercê do capricho dos líderes e deuses, o Êxodo do Egito ocorreu para revolucionar a paisagem da imaginação humana para toda a eternidade. Os judeus descobririam – e seriam responsáveis por partilhar essa descoberta com toda a humanidade – que a responsabilidade fundamental de toda sociedade é preservar a liberdade e a dignidade de todo ser humano, sob a soberania de um D’us livre que desejava seres humanos livres, que escolhessem construir um mundo fundamentado na liberdade, na dignidade do indivíduo e no apelo moral para construir um fragmento do céu no planeta terra (3).

Assim, mesmo se subsequentemente fosse dominado e oprimido, alvo de abuso, caçado como animal, o judeu jamais deixará de se ver como inerentemente um homem livre. Jamais concordará emocionalmente com a perseguição, e jamais chegará a um bom termo com a supressão. Jamais deixará de ver a escravidão e exílio como a suprema aberração da realidade e a maior distorção que o ser humano pode empreender. Seu íntimo gritará em protesto contra a tirania e a crueldade, e permanecerá obcecado com a crença de que o futuro deve ser diferente, que a Redenção ainda virá, que uma sociedade na qual dominem o mal e a corrupção não pode perdurar.

Isso, diz o Maharal, é o que os judeus celebraram a cada ano no Sêder de Pêssach, apesar das circunstâncias de privação. Eles não estavam vivendo num país de sonhos. Sabiam muito bem que estavam exilados, porém agradeciam a D’us pelo Êxodo de antigamente, porque implantou neles a consciência da liberdade para sempre, o anseio pela liberdade, e a convicção de que a liberdade é o direito inato de todo e cada um deles. Se – como declarou brilhantemente o Baal Shem Tov – você está onde sua vontade está, isso significa que você é essencialmente livre. Se você anseia pela liberdade, de fato você é livre.

Um Presente Divino
Os mestres chassídicos levam essa ideia um passo adiante. Se para alguns pensadores religiosos a busca do homem pela liberdade é sintomática de seu anseio pela indulgência frívola e emancipação do jugo da responsabilidade, no misticismo judaico, nosso anseio pela liberdade é uma das nossas qualidades mais divinas, impregnada em nós por causa da divina consciência embebida no espírito humano. O homem anseia por refletir a D’us. Assim como D’us é totalmente livre, o homem criado à imagem de D’us anseia por ser totalmente livre. É essa Divindade inerente num ser humano que nos impulsiona a desafiar e transcender constantemente os limites impostos sobre nós, incluindo até os limites da nossa própria natureza (4).

Como é interessante – e trágico – comparar essa inspiradora observação do Maharal com as odiosas observações feitas por um dos líderes filosóficos do moderno fundamentalismo islâmico, Sayyid Qutb. Em seu livro “Milestones”, Qutb argumenta que: “Durante seu cativeiro no Egito, os judeus adquiriram um ‘Caráter de escravos’. Como resultado eles se tornaram covardes e sem princípios quando indefesos, e cruéis e arrogantes quando poderosos. Essas características se tornaram qualidades eternamente judaicas e isso justifica sua eterna perfídia, ganância, ódio, impulsos diabólicos e as eternas conspirações e tramas contra Maomé e o Islã.”

Por que eles se rebelam?
Essa ideia do Maharal contém profundas ramificações no campo da educação contemporânea.

Como a liberdade é uma propriedade intrínseca da alma humana, uma manifestação da sua natureza Divina, devemos ser extremamente cautelosos para encorajar, em vez de ser ameaçados, pela sua completa e intensa expressão.

Se isso se aplica a toda pessoa, muito mais então com crianças e adolescentes, que têm um anseio especialmente profundo pela liberdade, pela auto expressão, pela liberdade de fazer as próprias escolhas e serem os donos da própria existência. Isso não é pecado; é uma qualidade nobre que pode ser concretizada para produzir as maiores bênçãos. Se suprimirmos sua liberdade, isso pode compeli-los a expressá-la de maneiras indesejáveis.

Se por exemplo, quando pais e educadores impõem sobre os filhos e alunos valores e tradições através somente de autoridade e coerção, muitas dessas crianças poderão rejeitar esses valores na vida adulta. Isso não é por desdém aos valores, mas é sua maneira de provar a si mesmos e ao seu ambiente que são livres.

A educação, obviamente, exige autoridade e disciplina. Crianças que têm permissão de fazer tudo aquilo que querem, freqüentemente terminam por ter vidas infelizes, carecendo de estabilidade, direção e segurança. A longo prazo, quando os valores morais são comunicados aos jovens somente em nome da autoridade em vez de com a voz da compaixão, quando a fé é baseada em dogmas ao invés de profundidade, quando a paixão é completamente substituída pela obrigação, o amor pelo hábito, a voz da alma suplantada pelo fardo da tradição, os valores que prezamos tanto podem ser sentidos como instrumentos de opressão aos olhos de nossos filhos. Em sua desesperada necessidade de liberdade, às vezes não lhe damos outra opção exceto dizer adeua a tudo que tentamos lhes ensinar.

Um delicado equilíbrio entre anarquia e supressão deve ser mantido. Deve-se mostrar aos jovens por que os valores tradicionais, morais e religiosos dos pais e avós são meios de auto-realização, auto-descoberta – e a suprema liberdade. E a eles devem ser fornecidas sábias oportunidades de vivenciar a alegria de ter a liberdade para escolher aquilo que constitui o caminho para uma vida digna e profunda; a liberdade para escolher a liberdade.

Fonte: site Beit Chabad

tenha um sábado de paz !!

Fernando Rizzolo

QUANDO A GENTE SE ESQUECE

“Havia um rei muito bondoso que certa vez, ao passar por uma estrada, escutou gritos de socorro. Ele parou sua carruagem e viu uma mulher cercada por maldosos bandidos. Em um impulso de valentia, o rei conseguiu salvar a mulher. Ela trazia muito dinheiro e certamente aqueles bandidos não teriam misericórdia dela, e por isso ficou muito agradecida ao rei por tê-la salvado. Após aquele incidente eles começaram a se falar todos os dias. Conversaram muito, e a conversa era cada vez mais agradável, até que um dia eles perceberam que estavam apaixonados e decidiram se casar.

O casamento foi uma grande festa, todos se alegraram muito, principalmente o noivo e a noiva. E por algum tempo eles viveram em completa lua-de-mel. Mas passados alguns meses, a esposa já não tratava o rei da mesma maneira. As longas conversas foram rareando, até que praticamente eles não se falavam mais. A mulher já não tinha mais nenhum sentimento de gratidão pelo que o rei havia feito por ela. Mesmo quando o rei tentava puxar uma conversa, ela se mostrava fechada e indiferente.

Não suportando mais aquela situação, o rei teve uma idéia. Certo dia, quando a esposa saiu para dar uma volta, o rei mandou alguns homens, fingindo ser bandidos, cercá-la e ameaçá-la. Quando ela se viu em perigo, gritou desesperada, pedindo a ajuda do rei. Ele apareceu e a salvou novamente. Então ela se lembrou de tudo o que ele já havia feito de bom por ela, e voltaram a ter um bom relacionamento. Muito feliz, o rei confidenciou à sua esposa:

– Gostaria de pedir perdão pelo sofrimento que eu te causei ao te dar este susto. Na verdade fui eu que armei tudo isso, apenas para que você voltasse a me procurar e a valorizar o nosso relacionamento. Mas no fundo eu preferia que você tivesse me procurado sem que eu precisasse te causar nenhum sofrimento. Como vi que nada estava funcionando, tive que fazer deste jeito”

Assim é o nosso relacionamento com D’us. Recebemos Dele coisas boas o tempo inteiro, e tudo o que Ele espera de nós é que nos lembremos Dele durante o nosso dia. Mas a gente sempre se esquece…

*
Nesta semana lemos a Parashá Beshalach, que começa com a saída do povo judeu do Egito, quando o orgulhoso faraó, dobrado pelo peso das 10 pragas que destruíram completamente o Egito, finalmente deixou o povo judeu sair. Mas o povo judeu ainda não se sentia completamente livre, em suas cabeças eles ainda se sentiam escravos, tinham medo que os egípcios os perseguiriam e os levariam de volta ao trabalho pesado. E também D’us não havia terminado Sua justiça com os egípcios, e não havia vingado a morte dos bebês que foram afogados no rio Nilo. Então o que D’us fez? Endureceu o coração do faraó, fazendo com que ele se arrependesse de ter libertado o povo judeu. O faraó reuniu um enorme exército e partiu em perseguição deles. Os judeus de repente se viram presos no deserto, cercado por todos os lados. Diante deles estava o Mar Vermelho, atrás deles vinham os egípcios e seus carros de guerra, e dos lados estava o terrível deserto com todos os seus perigos. Os judeus ficaram desesperados e gritaram para D’us, como está escrito: “O faraó se aproximou; e levantaram os olhos os Filhos de Israel, e eis que os egípcios viajavam atrás deles. E eles temeram muito, e gritaram os Filhos de Israel para D’us” (Shemot 14:10). Então o grande milagre aconteceu: o Mar Vermelho se abriu diante dos olhos de todo o povo judeu, e eles atravessaram no seco. Quando os egípcios foram atravessar, o mar se fechou sobre eles, afogando todo o exército egípcio e terminando definitivamente com a escravidão do povo judeu.

Mas deste episódio surgem algumas perguntas: se D’us queria salvar o povo judeu e terminar Sua justiça com os egípcios, por que teve que “assustar” o povo judeu? Por que Ele não fez de outra maneira, de forma que os judeus nem mesmo vissem os egípcios os perseguindo? Além disso, o Midrash (parte da Torá Oral) diz que a aproximação do faraó, que causou um grande susto no povo judeu, foi mais importante do que 100 jejuns e rezas. Por que?

Para encontrar a resposta destas duas perguntas, antes de tudo precisamos entender o que é a Tefilá (reza), pois em geral temos conceitos muito equivocados. Por exemplo, uma das bases do judaísmo é saber que tudo o que D’us faz é com justiça perfeita. Portanto, se Ele nos mandou algum sofrimento, é porque de alguma maneira nós o merecemos. Então por que rezamos para que Ele tire de nós este sofrimento? Não é uma forma de tentar desviar o julgamento perfeito de D’us?

Sempre que passamos por alguma dificuldade na vida, imediatamente começamos a rezar. Mesmo aqueles que estão afastados da religião, quando surge alguma doença ou qualquer outro perigo de vida, encontram um tempo e uma motivação para rezar. Nos aeroportos e hospitais sempre há um lugar para as pessoas rezarem, pois em geral envolvem situações de perigo ou medo. Por isso estamos acostumados a pensar que a Tefilá é apenas um meio que podemos utilizar para nos salvar de algum perigo ou sofrimento e, se não houvessem sofrimentos, não haveria nenhuma necessidade de fazer Tefilá.

Ensina o Rav Yechezkel Levinshtein que é justamente o contrário. A Tefilá não é um meio, é um propósito por si só. A Tefilá é nossa comunicação com o Criador do mundo, é a nossa forma de agradecer e reconhecer tudo o que Ele nos faz de bom. Diz o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas) que a Tefilá é um dos pilares que sustenta o mundo. Quanto mais o ser humano reflete sobre o conteúdo das Tefilót e o coloca em seu coração, mais ele cresce no seu amor e no seu temor a D’us, e consegue reconhecer todas as coisas boas que recebe. Mas quando o ser humano se afasta das Tefilót e se esquece do seu Criador, começam a vir dificuldades e sofrimentos que o despertam novamente para a Tefilá. Portanto a Tefilá não é um meio para se salvar dos sofrimentos, ao contrário, o sofrimento é o meio utilizado por D’us para trazer o ser humano de volta para a Tefilá, que Ele tanto deseja.

Foi isso o que aconteceu com o povo judeu no Egito. Quando eles estavam passando por terríveis sofrimentos da escravidão pesada, voltaram seus corações para D’us, como está escrito “E os Filhos de Israel suspiraram por causa do trabalho, e eles gritaram. O clamor deles por causa do trabalho chegou até D’us” (Shemot 2:23). Imediatamente D’us iniciou a salvação do povo judeu, com grandes milagres, com mão forte a braço estendido. E D’us ficou esperando que o povo judeu continuasse com seus corações conectados com Ele, mas isso não aconteceu. Quando os judeus viram que seus sofrimentos estavam terminando, imediatamente começaram a se afastar de D’us. Então Ele utilizou o faraó como um “despertador”. O susto despertou o coração dos judeus e os conectou novamente a D’us, em um nível maior do que se tivessem feito 100 jejuns.

Com este conceito entendemos também que a Tefilá, ao retirar o sofrimento, não desvia a justiça perfeita de D’us. Os sofrimentos vieram justamente pelo desejo de D’us de que a pessoa se conectasse com Ele através da Tefilá. No momento que a pessoa volta a fazer Tefilá, não há mais nenhuma necessidade dos sofrimentos.

É justamente por isso que temos no nosso dia 3 Tefilót fixas, em momentos estratégicos, para que possamos nos manter conectados com D’us o dia inteiro. Começamos o dia com a Tefilá da manhã (Shacharit), antes de irmos ao trabalho e antes mesmo de tomarmos um bom café-da-manhã. No meio do dia, após algumas horas de trabalho, paramos novamente para alguns momentos de conexão espiritual durante a reza da tarde (Minchá). E no final do dia, quando voltamos para casa, mais uma vez nos conectamos com a nossa espiritualidade na reza da noite (Arvit).

Muitas vezes, quando coisas “ruins” acontecem em nossas vidas, questionamos por que D’us nos abandonou. Mas a Parashá nos ensina justamente o contrário. Se estamos passando por dificuldades, pode ser um sinal de que nós abandonamos D’us. Apesar Dele cuidar do nosso bem estar 24 horas por dia, nós estamos sempre ocupados com o nosso dia-a-dia. Tudo é mais importante, tudo vem antes da nossa conexão com D’us. Então antes de reclamarmos que D’us nos abandonou, é bom checarmos se não fomos nós que O abandonamos e O deixamos falando sozinho.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

Tenha um sábado de paz !!

Fernando Rizzolo

Judeus ortodoxos e policiais entram em confronto em Jerusalém

Pelo menos três pessoas ficaram feridas em confrontos entre manifestantes judeus ultra-ortodoxos e policiais em Jerusalém, neste sábado.

Centenas de pessoas foram às ruas da cidade pela terceira semana consecutiva para protestar contra a abertura de um estacionamento durante o shabat, dia sagrado de descanso e orações para o Judaismo.

Alguns manifestantes atiraram pedras e derrubaram barricadas colocadas para obstruir a entrada do estacionamento.

A polícia israelense prendeu um homem que deitou embaixo de um ônibus desocupado.

Segundo o especialista da BBC em Oriente Médio Sebastian Usher, os protestos ocorreram em um bairro religioso conservador de Jerusalém, onde tem havido um clima de tensão entre judeus ortodoxos e seculares.

Usher afirma que a comunidade ultraortodoxa teme que a iniciativa do estacionamento atraia turistas para a área, o que poderia estimular o comércio a abrir no sábado, contrariando os princípios judaicos de descanso nesse dia.
Agência estado

Rizzolo: Realmente é um absurdo o desrespeito a um dia sagrado por parte de comerciantes que visam apenas o lucro. Com razão o protesto é válido, e procedente são as alegações de que com a abertura do estacionamento a iniciativa atrairá turistas para a área, o que poderia realmente estimular o comércio a abrir no sábado, contrariando os princípios judaicos de descanso nesse dia. Apóio o protesto que é legítimo.

Não defraudarás o empregado pobre

Como é sabido, me recolho toda sexta-feira para o shabat, geralmente antes participo de um estudo com o rabino da minha Sinagoga Chabad em São Paulo. Esta semana a porção semanal da Torá chama-se Ki Tetsê e o que me chama sempre a atenção nesta parashat (porção da Tora´) é um versículo que diz ” Não defraudarás o empregado pobre e necessitado, seja ele de teus irmãos ou seja ele dos teus estrangeiros que habitam na tua terra ” .

Com efeito, a humanidade tem lutado sempre por este princípio, deste a época mais remota, a ética judaica sempre priorizou as relações com os pobres, a diferença conceitual do mais fraco contrapõe-se ao princípio ético de que todos somos iguais perante Deus, e obviamente se existe o mais indefeso, e temos consciência disso, como parceiros de Deus aqui na terra, temos a obrigação de não propiciar a este uma condição ainda pior.

Na realidade isto não tem apenas um caráter social, mas sim altamente religioso, pois qualquer falta em relação a Lei apregoada na Torá terá por conseqüência um ” pecado religioso”. É interessante ressaltar que talvez por influência bíblica, certos conceitos de justiça social se originaram no Antigo Testamento, ou na Torá. A exegese conceitual da opção pelo mais fraco, e a observação como isto sendo um pecado religioso, nos confirma a determinação divina na opção até por questões éticas, aos mais pobres.

Isso, com efeito, não poderia jamais ser apropriado pelo socialismo ateu como sendo uma premissa autoritária, até porque a tirania desconstitui o livre arbítrio, que é a manifestação mais nobre do ponto de vista político daquilo que podemos chamar de democracia. De qualquer forma escrevi este singelo texto, talvez por sempre me emocionar com este pequeno versículo do antigo versículo, que por muitas vezes é tão difícil de ser observado, principalmente em países pobres como o nosso.

Mais uma vez Shabat Shalom !!

Fernando Rizzolo

Shabbat Shalom

Shabat Shalom for you !!

Tenha um Sábado de muita paz ! Divulguem este vídeo e o Blog !!