Oposição acusa Dilma de ‘encenação’ durante visita ao túmulo de Tancredo

PSDB, DEM e PPS acusaram nesta quarta-feira, 7, a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, de fazer uma “encenação” com interesses eleitoreiros ao visitar o túmulo de Tancredo Neves em sua passagem ontem por Minas Gerais.

Em nota oficial, divulgada no início desta tarde, a direção das três legendas classificou a homenagem da petista como “tardia e mal explicada”. “A homenagem a Tancredo Neves se reduz a uma encenação com as marcas inconfundíveis da impostura e do oportunismo, presentes em outras passagens da carreira da neopetista Dilma Rousseff”, afirma o texto.

Dilma, que cumpre ainda hoje agenda no Estado mineiro, depositou flores no túmulo de Tancredo e disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou “na prática” o sonho do mineiro, avô do governador Aécio Neves.

Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do País. Nascida no Estado, Dilma fez carreira política no Rio Grande do Sul e tenta agora uma reaproximação com os mineiros.

A nota tucana diz ainda que o reconhecimento a Tancredo “chega com 25 anos de atraso e sem explicações devidas e nunca apresentadas todo esse tempo”.

Também mira o PT. “O partido ao qual Dilma Rousseff aderiu recentemente, mas que hoje representa no nível mais alto, negou apoio a Tancredo Neves e ao pacto de transição democrática que sua candidatura presidencial possibilitou”, segue o texto.

A nota lembra que o partido chegou a expulsar deputados que votaram no mineiro no colégio eleitoral. “Com a arrogância habitual, nem o PT, nem Dilma Rousseff, nem Lula da Silva jamais se retrataram por suas posições equivocadas e mesquinhas nesse passo decisivo da caminhada do Brasil rumo à democracia”.

agência estado

Rizzolo: Bem, eu entendo que aí vale uma reflexão sobre o simbolismo da visita. Preliminarmente é importante salientar que um fato pessoal não pode jamais se tornar alvo de politização eleitoreira. Dilma, quer a oposição queira ou não, é mineira. Se passou uma grande parte da sua vida fora do Estado de origem, não a desqualifica, da mesma forma que não podemos desqualificar a origem daqueles que procuram melhores oportunidades em locais distintos, ademais a busca pela origem, a necessidade pelo resgate ao passado, ele surge exatamente na vida da gente nos momentos em que estamos diante de desafios.

Dilma ao visitar o túmulo de Tancredo, visitou um presidente do Brasil mineiro, que não concluiu seu mandato em face ao destino. O mais intrigante nessa crítica da oposição, é que nem isso respeitam. Nem sequer se ativeram à questão emocional, nada, bem ao cardápio neoliberal, do consumo, da individualidade, do oportunismo, da falta de sentimento humano. Uma pena.

Alma Mineira e a Política

O tucano e governador de Minas está na pauta do dia, articulando, conversando com líderes de diversos partidos, se movimentando. Minas quer ter seu ator político, e nada melhor do que ler os textos de Drummond para enxergarmos a alma mineira, seu apego histórico, o desejo latente de se ter um presidente da república. Quem não se lembra do poeta mineiro morando no Rio e falando de seu amor à Itabira?

Quando falamos no nome de Aécio Neves, temos que enxergar algo mais que uma candidatura à presidência; algo calado, bem ao estilo mineiro, quase uma voz tranquila que vem das cidades do interior de Minas. Falar em Aécio como um candidato à presidência, é remetermos a o inconsciente coletivo do povo de Minas, é reacender a chama da velha capacidade mineira de se fazer política.

Minas Gerais – o segundo maior colégio eleitoral do país – impõe uma candidatura própria, regional. Talvez um lenço que enxugue as lágrimas derramadas em 1985, quando Tancredo se foi, um verdadeiro resgate da perda do grande orador mineiro, que significava acima de tudo, a esperança do povo brasileiro.

Não tem jeito, o mineiro é assim, e quando ele própio se esquece que é mineiro, alguém vem e lhe lembra. Até a ministra Dilma Rousseff resgatou sua origem lá de Minas já quase apagada na sua memória, para que se apaziguasse com seu passado e tivesse uma maior co-relação de forças no Estado de Tiradentes; talvez imitando Drummond quando a poesia o levava vez ou outra a lembrar que era sempre um mineiro.

Por sorte uma mudança de partido por parte de Aécio não seria tão ruim para o povo de Minas – se as condições assim o exigissem. Partidos existem e como cavalos servem, monta-se no que melhor resistir à caminhada, naquele que melhor respira o ar dos objetivos, levando seu cavaleiro com mais rapidez e segurança aos ideais de um povo que ainda espera a continuidade da sua história, rasgada de forma abrupta com a morte do velho Tancredo.

Minas não esquece seus políticos, e Aécio caminha na consagração daquilo que dia se perdeu: seu avô, um presidente mineiro.

Fernando Rizzolo