A política brasileira atravessa uma quadra contraditória. Lula degusta notáveis índices de popularidade. Mas quem observa os índices de intenção de voto que as pesquisas atribuem ao tucano José Serra é levado a crer que chegou a hora da oposição.
Em meio ao inusitado, Lula olha para o PT e vê um armazém de postes. Decidiu inaugurar um programa novo: uma versão eleitoral do Luz para Todos. É como se desejasse levar energia a todos os potenciais presidenciáveis petistas.
No curto intervalo de duas semanas, o presidente levou mãe Dilma ‘PAC’ Rousseff aos morros do Rio, compareceu a uma cerimônia organizada por Tarso ‘Pronasci’ Genro, festejou aniversário de ministério ao lado de Patrus ‘Bolsa Família’ Ananias e estimulou Marta ‘Boa Candidata’ Suplicy a mergulhar na campanha paulistana.
É jogo de cena, suspeita a oposição. Lula não seria de dar apoio senão a si mesmo. Move-se por entre os postes ruminando, no íntimo, uma pergunta: Se estou tão bem avaliado, por que não permitir ao povo que prolongue sua própria felicidade?
Pelo menos sete líderes oposicionistas se encontram com o pé atrás. No PSDB: FHC, Sérgio Guerra e Arthur Virgílio. No DEM: Jorge Bornhausen, Marco Maciel e José Agripino Maia. No PMDB dissidente: Jarbas Vasconcelos. Todos acham que, na virada da curva, Lula flertará com o terceiro mandato. É como se vissem em Lula uma espécie de Incrível Hulk, prestes ganhar coloração esverdeada, exibir os músculos e rasgar as próprias vestes.
Ouça-se, na voz de Agripino Maia, o raciocínio que permeias as suspeitas: “O que o Lula está fazendo? Peregrinando pelo país. Voa no Aerolula abastecido por todos nós. Reúne o povo à custa de distribuição de marmitas pagas pelo erário. Agride a oposição em inaugurações travestidas de comícios. O que é isso? É a pré-campanha da continuidade. Calçando um salto 40, arrogante e auto-suficiente, o presidente aguarda pelo projeto que seu amigo Devanir Ribeiro [PT-SP] vai apresentar, propondo o plebiscito do terceiro mandato. A democracia será colocada em xeque. Quem viver verá.”
Sérgio Guerra, o presidente do PSDB, acha que Lula oscila “momentos de valorização da democracia com instantes de puro autoritarismo.” Não duvida que o PT esteja tramando a continuidade de seu único líder. “Se vier, vamos combater.” Jarbas Vasconcelos lista “evidências” que, a seu juízo, deixam claro que Lula vive um “surto autoritário.”
“No Planalto, o TCU é considerado um aglomerado de políticos aposentados, Lula desmoraliza o Judiciário, depois diz que Congresso precisa trabalhar, como se ele fosse trabalhador, não tem o menor respeito pela mídia, com a equipe repleta de aloprados, passa a mão na cabeça dos irresponsáveis e acha que a palavra dele basta.”
Jarbas prossegue: “Derrotamos a CPMF e Lula decretou aumento de impostos, depois de mentir que não iria fazê-lo. O governo exige que a Colômbia peça desculpas ao Equador, mas não condena as Farc, um agrupamento de criminosos e seqüestradores. Não vou mais ficar calado. Lula tem formação autoritária. E o Senado não pode botar o rabo entre as pernas. O eco agora é pequeno. Mas depois cresce. Eu era deputado estadual no Recife quando o general Médici desfrutava de popularidade de 84% no meu Estado. E terminou como um dos mais repudiados generais da ditadura.”
Petistas como o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), que cultivam o bom senso, sustentam que Lula jamais patrocinaria um movimento de desrespeito à Constituição. Mas há uma ala do petismo que flerta –a sério— com a macumba do terceiro mandato. Devanir Ribeiro, compadre de Lula, não está sozinho quando afirma que aguarda o momento propício para protocolar o seu projeto na Câmara.
FHC arrancou a reeleição do Congresso em meio a um tilintar de verbas que incluiu uma malfadada “cota federal” de R$ 200 mil. Pagou, depois, o preço do poder longevo. Uma conta que, além da ofensa aos costumes, espetou na biografia do príncipe o populismo cambial e a ruína econômica. O silêncio de Lula sobre a re-reeleição não faz bem nem à sua presidência nem à democracia. Num instante em que reencontra o caminho do crescimento econômico, o presidente merece melhor sorte.
Lula precisa vir ao meio-fio para desautorizar, em termos críveis, a maluquice. Do contrário, pode desperdiçar a sua hora. Há duas semanas, Lula ouviu do neo-conselheiro Delfim Netto conselhos acerca do que fazer na economia para evitar que seu governo transfira para o sucessor ruína semelhante à que recebeu de FHC. Um presidente que não esteja de olho no palanque decerto terá mais tempo para cuidar do que realmente interessa. De mais a mais, 2014 não está assim tão longe.
Blog do Josias / Folha
Rizzolo: Sei que a partir de agora, muitos irão discordar e outros tantos irão concordar com meu ponto de vista. Mas gostaria de preliminarmente fazer uma observação política, não jurídica, ate porque para um terceiro mandato é necessário que o legislativo encaminhe sugestões de Propostas de Emenda Constitucional (PECs) que possibilitem uma reeleição. O presidente Lula até o momento, realmente não acredita que nenhum desses ” filhotes” a presidência tenha condições e densidade eleitoral para fazer frente a um candidato da oposição. Essas viagens pelo Brasil, acredito que tenha sim, segundas intenções, todavia com todos os defeito que atribuo ao presidente neste blog, é preciso fazer uma reflexão em nome da democracia, senão vejamos:
Fica patente que o exercício da democracia se faz com a renovação, este é modo saudável de se ver a alternância do poder, porem, tão nobre quanto a renovação é o direito assegurado por esta mesma democracia em se ouvir os clamores do povo brasileiro. Assim entendo que, se lá adiante Lula ou o Executivo tiver condições legais para consultar o povo sobre um terceiro mandato através de um plebiscito, a consulta terá com certeza base e esteio popular democrático para legitimizar seu qual for seu resultado; muito embora hoje, o encaminhamento é uma exclusividade do legislativo. Ao colocar meu ponto de vista, que sei ser controverso, reflito sobre fatos atuais de popularidade do presidente despindo me de interesses partidários. Afirmar que o povo ao ter condição de ser consultado, ao expressar seu desejo a um terceiro mandato, estaria ferindo a democracia, é como negar que a democracia seja o desejo da maioria na sua essência.
Para finalizar, nos resta torcer para que isso não aconteça, a fim de avançarmos com um candidato que realmente esteja mais comprometido com o povo brasileiro. Mas se o povo quiser, nada podemos fazer…