Jobim exonera general após provocação contra direitos humanos

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou nesta quarta-feira (10) a exoneração do general da ativa Maynard Marques de Santa Rosa, chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército. A punição veio após Maynard publicar carta onde diz que a Comissão da Verdade – criada pelo governo para investigar crimes contra os direitos humanos durante a ditadura militar (1964-1985) – seria formada por “fanáticos” e viraria uma “comissão da calúnia”.

Jobim fez uma declaração seca, sem comentar os motivos da punição. “Acabei de encaminhar ao presidente da República a exoneração do chefe do departamento-Geral do Pessoal do Exército. Ele está à disposição do comando do Exército. O assunto está absolutamente encerrado”, afirmou o ministro.

A contestação da Comissão da Verdade pelo general Maynard – que circula em sites de ultradireita na internet – viola a disciplina militar. O RDE (Regulamento Disciplinar do Exército) proíbe aos oficiais da Arma “,manifestar-se, publicamente, sem que seja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária”; e “censurar ato de superior hierárquico ou procurar desconsiderá-lo, seja entre militares, seja entre civis”.

Manifestações como essa foram comuns durante o século passado, até culminar com o golpe e a ditadura. Depois da democratização de 1985, os militares em geral as arquivaram. Há tempos um general de quatro estrelas e do serviço ativo não se comportava como o agora ex-chefe do Pessoal do Exército, sobre um tema que compete apenas à cidadania e às instituições democtraticamente constituídas.

Na parte substantiva de sua mensagem, depois de um exercício de má filosofia em que cita Descartes e Nietzsche (grafando erradamente o nome do pensador alemão), Maynard afirma: “A ‘Comissão da Verdade’ […] será composta dos mesmos fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o seqüestro de inocentes e o assalto a bancos, como meio de combate ao regime, para alcançar o poder. Infensa à isenção necessária ao trato de assunto tão sensível, será uma fonte de desarmonia a revolver e ativar a cinza das paixões que a lei da anistia sepultou. Portanto, essa excêntrica comissão, incapaz por origem de encontrar a verdade, será, no máximo, uma ‘Comissão da Calúnia’.”
site do PC do b

Rizzolo: Achei a medida descabida e exagerada. O ministro Jobim não precisava se valer de tal expediente rigoroso, como a exoneração pelo fato do militar ter externado seu pensamento; valeria apenas uma advertência, mas ao que parece, existe interesse num confronto, e isso não é bom para o Brasil, nem para a democracia, e tampouco para as instituições, não aprovo a medida pela desproporção entre o fato em si, e a atitude extrema do ministro, gerando uma humilhação ao general, Lula endossou a decisão.

O Aero – Willys e o Congresso Nacional

A política brasileira sempre sofreu de crises de cunho moral. Por outro lado, teve em seus momentos mais difíceis, homens capazes de reconstruir a vil trajetória da amoralidade e da falta de ética, com valores capazes coibi-los em ações pautadas na moralidade pública. A democracia, a ética, a probidade administrativa, são características essenciais e sagradas no desenvolvimento social de um País.

Mas porque hoje no Brasil a corrupção, a politicagem, o clientelismo, e a falta de ética impera nos meios políticos? Será que a democracia no Brasil, não é capaz produzir homens de bem, ou a política na sua mais mais áspera concepção de arranjos inter – partidários acaba por corromper os bem-intencionados homens públicos?

Longe de abrigar uma argumentação defensiva do regime militar, tampouco avalizando um revisionismo político. Contudo, me lembro ainda quando jovem, meu pai – um advogado defensor da democracia – ao ler no jornal, com um certo ar de indignação e admiração patriótica, a notícia que dava conta da decisão do marechal Castello Branco – presidente militar na época – de demitir sumariamente um irmão seu, Licurgo, funcionário da Receita Federal, ao tomar conhecimento que recebera de presente um Aero-Willys, o carro mais caro na época, fabricado no Brasil.

Hoje no Brasil dos anões do orçamento, da CPI dos precatórios, do dossiê Cayman, do mensalão, do dinheiro na cueca, do caso Palocci, das acusações contra Renan Calheiros, do caso Rondeau e Guatama, da Operação Satagraha, dos gastos do Senado e outros, nos apenas resta indagar se esta democracia que vivemos não está de certa forma maculada pelos interesses pessoais dos políticos, que em última instância, estão à serviço de si próprios, e das poderosas siglas partidárias que os conduzem ao poder, dispensando e desprezando dessa forma a devida prestação de contas pertinentes aos seus mandatos.

Com muita propriedade afirmava Rui Barbosa em ” Cartas da Inglaterra”, que “A pior democracia é preferível à melhor das ditaduras”. Temos hoje no Brasil que agregar à participação política, através da educação e da formação, políticos de boa intenção, de caráter ético, preparados para construir uma democracia refratária ao populismo leviano, e eleitoreiro.

Talvez então não teremos o pior da democracia, mas afastaremos de vez aqueles que por de trás de um discurso “elaborado”, justificam e avalizam o desrespeito ao povo brasileiro e às liberdades democráticas no exercício de seus mandatos.

Fernando Rizzolo

‘Manifestação contra governo ditatorial é legítima’, diz OAB

BRASÍLIA – O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil ( OAB), Cezar Britto, afirmou na tarde desta quarta-feira, 5, que guerrilhas de esquerda para depôr governos ditatoriais, como ocorreu na ditadura militar, no Brasil, são atos legítimos e pela legislação internacional, chancelada pela Organização das Nações Unidas (ONU), não configuram terrorismo. “Entendemos que a manifestação contra governo ditatorial é legítima, faz parte da sobrevivência de um povo”, disse. “A ONU tem admitido que o fato de resistir a uma ditadura, não é ato terrorístico.”

A declaração do presidente da OAB, feita após audiência com o ministro da Justiça, Tarso Genro, contraria a tese do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, de que a Lei da Anistia, de 1979, vale para todos os lados – sejam torturadores do regime militar, ou guerrilheiros de esquerda que tenham praticado atos de terrorismo, como assalto a banco, seqüestro de diplomatas e assassinatos.

A OAB é autora da ação no STF que pede punição para torturadores. Tarso defende as mesmas teses de Britto, para quem o presidente do tribunal precipita-se ao revelar sua opinião sobre um assunto que ainda será julgado na Casa, quando coloca torturadores e guerrilheiros no mesmo nível. “Esse é justo o tema que está sendo colocado para o STF decidir”, explicou o presidente da OAB. “O que nós reafirmamos é que aquele cidadão que estava preso a disposição do Estado, que deveria lhe dar segurança, não poderia ser vítima de tortura.”

Segundo o presidente da OAB, é assim que funciona na legislação de todo o mundo, que o Brasil tem apoiado. “Não basta apoiar uma legislação, é preciso fazer o dever de casa”, cobrou. Mas ele acha que o debate está sendo saudável e que, ao final, prevalecerá a tese universal compatível com os direitos humanos e o STF terá uma decisão histórica. “O Brasil vai ficar em paz com sua história ao reconhecer que aqui, como nos demais países, torturador não tem vez”, afirmou.

agência estado

Rizzolo: Sinceramente, com todo o respeito ao nobre colega Dr. Cezar Britto, presidente da OAB Federal, que tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente, afirmações como esta, no meu entender, não são saudáveis à democracia no Brasil. Temos um de lado, uma posição de bom senso do ministro Gilmar Mendes, onde procura de forma equilibrada e clara, visualizar os excessos na época cometidos por ambas as partes, e dar respaldo à Lei da Anistia de 1979, que serviu até hoje, como baluarte do entendimento pavimentando a nossa democracia.

Agora, afirmar que ” guerrilhas de esquerda para depor governos ditatoriais, como ocorreu na ditadura militar, no Brasil, são atos legítimos “, citando a chancela da ONU para dar esteio à sua argumentação, não é uma forma correta de se conduzir a questão, e no meu entender, inapropriada em nome da OAB Federal. Temos que combater os regimes de exceção, através do espírito democrático, do debate, das idéias, assim como bem o fizemos no Brasil. Acredito que como eu, muitos advogados no Brasil, e não compactuam com este entedimento. Esse conceito de legitimidade não é o que leva ao consenso, à paz, e ao desenvolvimento, com todo o respeito ao nobre presidente.

Mendes diz que ‘terrorismo também é imprescritível’

SÃO PAULO – “O texto constitucional diz que também o crime de terrorismo é imprescritível”, declarou ontem o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ao comentar declaração da ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, segundo a qual o crime de tortura não prescreve. Para Mendes, “essa discussão sobre imprescritibilidade é uma discussão com dupla face”.

A polêmica sobre tortura e terrorismo acirrou depois que a Advocacia-Geral da União (AGU) se manifestou a favor do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), unidade militar apontada como reduto de arbítrios nos anos de chumbo. “Não conheço todos os dados”, observou o ministro. “Claro que não é dado ao advogado da União fazer escolhas quando imputam responsabilidade nas ações à própria União. Tem que fazer a defesa do ato a não ser que seja evidente a responsabilidade da União. A regra é a defesa, é fazer a defesa sempre que se impõe um ônus à União, sempre que haja esse risco.”

“É evidente que esse tema direitos humanos se presta a ideologizações e a politizações”, insistiu o ministro, em São Paulo, onde participou do seminário Democracia e Estado de Direito: o Judiciário em foco. “Tenho uma posição muito clara em relação a isso. Eu repudio qualquer manipulação ou tentativa de tratar unilateralmente os casos de direitos humanos, que devem valer para todos da mesma forma: presos, presidiários, ativistas políticos.”

Para o presidente do STF, “não é possível dar prioridade para determinadas pessoas que tenham determinada atuação política em relação a outras”. Ele enfatizou: “Direitos humanos não podem ser ideologizados e é bom que isso fique muito claro. Nem direita nem esquerda. É um conceito que está numa declaração universal, tanto vale para o cidadão que está recolhido no presídio como vale para um eventual integrante das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Rizzolo: Desde há muito, este Blog vem tratando esta questão do revanchismo, como um retrocesso na dinâmica da democracia brasileira. Este assunto que já deveria estar “engavetado” há muito tempo face à Lei de Anistia; contudo, vem à baila vez ou outra, capitaneada por grupos de esquerda que querem de qualquer forma uma “vingança institucional”.

Com muita propriedade, o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), se manifestou em relação a este assunto. O próprio presidente Lula, com seu bom senso costumeiro em questões de cunho político, também pautou a questão. O ideal seria enterrarmos esta questão de uma vez por todas, e construirmos um Brasil sem rancor. Temos assuntos mais importantes.

Em reação a militares, Tarso afirma ter orgulho de sua ficha

O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem ter “orgulho” de sua ficha pregressa ao rebater a iniciativa de militares da reserva, com apoio de comandantes da ativa, de organizar uma contra-ofensiva à sua proposta de debater meios de punição a “agentes de Estado” que tenham praticado tortura, assassinatos e violações dos direitos humanos durante o regime militar. “A minha (ficha) me orgulha.”

Os militares planejaram uma espécie de anti-seminário em reação à audiência pública patrocinada pelo Ministério da Justiça na semana passada para debater o tema. Eles marcaram um encontro para quinta-feira, no Clube Militar do Rio de Janeiro, conforme divulgou ontem o Estado.

No evento, nomes, fotos e “biografias” de autoridades do governo Luiz Inácio Lula da Silva e de personalidades do PT com “passado terrorista” serão apresentados. A lista traz a ficha de Tarso em quinto lugar – ele aparece, com os codinomes Carlos e Rui, como “terrorista dos anos 60/70”, “atraído para a luta armada”, que acabou aderindo “à Ala Vermelha” e intensificando suas atividades “depois do AI-5”.

O objetivo dos militares é discutir propostas para que os excessos cometidos por guerrilheiros durante a ditadura também sejam punidos.

Ontem, após participar do debate O Brasil e o Estado de Direito, realizado no auditório do Grupo Estado (leia reportagem nas páginas A8 e A9), Tarso afirmou primeiro aos jornalistas que considerava sua participação na discussão “interditada”, pois aguardava uma orientação técnica sobre o caso. Depois, manteve a defesa da tese de que torturadores do regime militar devem ser responsabilizados cível e criminalmente. A defesa foi o estopim que provocou a reação dos militares e até mesmo do ministro da Defesa, Nelson Jobim.

“Eles (oficiais da reserva) têm direito de fazer a manifestação que fizeram. A minha participação nesse debate está interditada, pois estou aguardando alguma resposta jurídica e técnica sobre isso, pois é uma questão jurídica”, afirmou Tarso. Logo depois, porém, ressaltou: “Em nenhuma legislação, em nenhum tratado internacional, em nenhum país democrático, tortura é considerado crime político.”

LEVIANA

Tarso criticou ainda aqueles que relacionam sua iniciativa de discutir mudanças na Lei de Anistia com possíveis interesses eleitorais. O nome de Tarso é cogitado como possível candidato do PT à Presidência, em 2010. Ele nega ser candidato.

“Considero leviana uma informação que circulou em determinada coluna de que levantar esse tema está vinculado a uma questão sucessória”, declarou o ministro aos jornalistas.

Tarso disse ter dois motivos para isso. Mas acabou listando três: “Primeiro, porque não sou candidato a presidente; segundo, porque quem conduz esse processo no nosso meio é o presidente da República, e terceiro porque misturar uma questão dessa seriedade, que é discutida em todo mundo, com questões políticas imediatas é uma ligação absolutamente despropositada e falsa.”

Petistas como o deputado Jilmar Tatto (PT-SP) e Cândido Vaccarezza (PT-SP) criticaram a decisão de Tarso de entrar em confronto aberto com as Forças Armadas – e a admitiram como uma possibilidade de se colocar como pré-candidato à Presidência dentro do PT.

IRRITAÇÃO

A defesa de Tarso de uma alternativa para que agentes do Estado sejam punidos cível e criminalmente por tortura durante o regime militar irritou diretamente o ministro da Defesa. Jobim fez questão de ressaltar que “a análise dos fatos que estão sendo levantados por Tarso cabe exclusivamente ao Judiciário” e nada tem que ver com o Executivo.

Ele teve de pessoalmente acalmar comandantes das Forças Armadas. Até o momento, eles não encamparam oficialmente o movimento dos militares da reserva, mas já apóiam nos bastidores o movimento de listar os guerrilheiros.

O advogado constitucionalista Pedro Estevam Serrano, professor de Direito Constitucional da PUC-SP, saiu ontem em defesa de Tarso e afirmou que é “absolutamente constitucional a interpretação do ministro de que os crimes de tortura praticados durante o regime militar devem ser julgados”.

“A Constituição de 1988 teve o caráter de fundar um novo regime jurídico e estabelece princípios muitas vezes retroativos. Foi o que ocorreu na Alemanha do pós-guerra, por exemplo. E realmente a Lei de Anistia não pode ser interpretada de forma a alcançar crimes não-políticos e de lesão à humanidade, como o de tortura”, defendeu o advogado.

Defensor da iniciativa de Tarso, Serrano diz, no entanto, que “mais relevante do que punir agentes é identificá-los”. “Indenizações a torturados e ofendidos são necessárias, mas não devem servir como arrimo para jogarmos nossa história para debaixo do tapete.”
Agência Estado

Rizzolo: Como venho dito, essa discussão em hora inapropriada só pode ter um sentido: a provocação. O ministro não deveria incitar questões dessa natureza que apenas denotam um revanchismo quase do ponto de vista pessoal. A questão da tortura, no meu entender é muito subjetiva; não há dúvida que houve excessos, tanto do lado dos opositores do regime militar quanto dos militares na época. O difícil, é com certeza, quantificar e classificar o “componente tortura”, vez que a argumentação do ministro de concretiza no conceito de tortura diferenciando-a do contexto exposto na Lei de Anistia.

Seqüestrar um avião com gritos, ameaças, e armas em punho, não se configuraria gesto de tortura aos passageiros? Seqüestrar um embaixador mantendo-o em cárcere privado não é um tipo horrível de tortura em relação à vítima? Como podemos inferir, não existe uma tortura legitimada, como assim querem nos induzir a pensar. Contudo a discussão foi lançada, sabemos como ela começa, mas não sabemos o quanto ruim poderá ser para o Brasil. Entramos num caminho que não levará a nada, a não ser sede de vingança, e constrangimento para o povo brasileiro.

Tarso volta a defender punição à tortura; militares marcam ato

SÃO PAULO – Enquanto o ministro da Justiça, Tarso Genro, voltou a defender nesta segunda-feira punição a torturadores do período da ditadura, militares que se sentiram descontentes com as declarações marcaram um ato em que pretendem discutir a Lei de Anistia.

“O que eu coloquei no debate –e estou aguardando alguma resposta jurídica sobre isso– é que em nenhuma legislação, em nenhum tratado internacional, em um país democrático, tortura é considerada crime político”, disse Tarso a jornalistas após participar de um debate no jornal O Estado de S. Paulo.

Na semana passada, durante seminário sobre o assunto, Tarso defendeu punição para torturadores do regime militar (1964-1985) pela prática de crimes comuns por envolverem tortura e violência física e psicológica.

Tarso afirmou ainda que a Lei de Anistia, de 1979, não protege torturadores. Há uma interpretação, válida até agora, de que a lei beneficiou os dois lados: os oposicionistas ao regime e os autores de torturas.

O seminário dos oficiais da reserva está marcado para quinta-feira na sede do Clube Militar, no Rio de Janeiro, e leva o título “A Lei de Anistia — Alcance e Conseqüências” que terá três palestrantes, um deles o general Sergio de Avellar Coutinho, além de dois civis, informou um assessor do clube.

Os militares estão sendo convocados por email e por um anúncio pago que será publicado na quarta-feira em um jornal do Rio de Janeiro. O clube, espécie de porta-voz dos militares, reúne 21 mil integrantes das três Forças. Especula-se que será divulgada no evento a participação de integrantes do governo em atos contra a ditadura.

“Os militares da reserva têm direito de fazer a manifestação que quiserem”, disse Tarso.

PRESIDENTE

O ministro da Justiça rechaçou que o tema tenha relação com a sucessão presidencial, como se especulou na mídia.

“Considero leviana a informação de que levantar esse tema está vinculado à questão sucessória. Primeiro porque não sou candidato a presidente da República, segundo porque quem conduz esse processo é o presidente da República e terceiro porque misturar uma questão desta seriedade com questões políticas imediatas é uma ligação despropositada e falsa.” (Reportagem de Carmen Munari)
Agência Estado

Rizzolo: Considerar o aspecto tortura que é por demais subjetivo como sedimentação argumentativa para justificar uma revanche, é realmente uma manobra diversionista. Na verdade existe uma pressão por parte de segmentos radicais do governo que querem o isolamento dos militares, que segundo eles se excederam – o que também é muito discutível o que é o excesso e se o excesso é considerado tortura – para que essa ala militar, fique na realidade “fora de circulação”, e não mais influenciem os militares de uma forma geral. No meu ponto de vista essa é a realidade, o resto é conjectura. Tarso com essa postura denota um radicalismo nunca antes visto de forma tão clara e tão preocupante num Brasil que ama a paz e o entendimento.

Ex-agente da CIA: “decisão de torturar vem da Casa Branca”

Em entrevista à rede de TV norte-americana ABC John Kiriakou confirmou que a decisão de torturar um prisioneiro “é uma política feita na Casa Branca em combinação com a Agência Nacional de Segurança e o Departamento de Justiça”

O ex-agente da CIA John Kiriakou, que chefiou a operação de captura de Abu Zubaidah, um dos dois presos cujos vídeos da tortura foram destruídos, afirmou em entrevista à rede de TV norte-americana ABC que a ordem de tortura partiu da Casa Branca. “A coisa não funciona assim: um agente acorda pela manhã, meio em dúvida, e decide que vai aplicar uma técnica intensificada [tortura] num prisioneiro. Essa é uma política feita na Casa Branca, em combinação com a Agência Nacional de Segurança e o Departamento de Justiça”, revelou. A tardia admissão, pelo governo Bush, de que centenas de horas de vídeos com a tortura do prisioneiro Zubaidah foram des-truídas, está causando um vendaval político em Washington. Na entrevista, o ex-agente confirmou que o preso foi torturado, inclusive através do “water-bording” (afogamento). O vazamento da queima de arquivo, através das páginas do “New York Times”, ocorreu, curiosamente, uma semana após as principais 16 agências de espionagem dos EUA terem desmentido em uníssono Bush sobre o “iminente perigo nuclear do Irã”.

RUMSFELD

A declaração de Kiria-kou – de que a ordem veio de cima, “da Casa Branca” – não chega a ser uma surpresa. Afinal, durante o período mais crítico, para o governo Bush, do escândalo de Abu Graib, ficou patente que o secretário do Pentágono, Donald Rums-feld, acompanhava passo a passo, inclusive com instruções e recomendações de próprio punho, a tortura dos “alvos” tidos como mais importantes. E fazia isso, porque essa era a política oficial do governo dos EUA, intensamente discutida entre ele, Cheney e Bush, e consagrada basicamente em dois pontos. O primeiro: o desconhecimento das Convenções de Guerra de Genebra e a negação da condição de presos de guerra aos cativos. O segundo, os memorandos do Departamento de Justiça oficializando a tortura. Política mantida mesmo após o escândalo de Abu Graib.

Como disse adiante Kiriakou, a tortura é orientada a partir de cima “passo a passo”, até mesmo nos “passos mínimos”. O que é confirmado em outros dados. Como o de que o comandante geral das tropas no Iraque, na época o general Ricardo Sanchez, foi consultado e aprovou vários “cronogramas” de tortura. Também não é nenhuma novidade que o general Miller, chefe do campo de concentração de Guantánamo, e depois, o enviado especial de Bush ao Iraque, funcionava como uma espécie de diretor-geral do serviço de tortura dos campos de concentração norte-americanos.

VÍDEOS

Diante da situação criada com a revelação de que os vídeos da tortura foram queimados, a tática do governo Bush tem sido de lançar a responsabilidade sobre o capo das operações clandestinas da CIA de então, um certo José Rodri-guez Jr. Nessa versão, Rodriguez teria passado por cima do diretor-geral da CIA na época, Porter Goss, e até de supostos pareceres contrários da Casa Branca, do Departamento de Justiça e do Congresso. Isso, “para proteger” os agentes terceirizados de “retaliações da Al Qaeda”, apesar do agente Kiriakou não parecer achar isso provável, já que foi à TV dar entrevistas.

Então, quem é que está, realmente, necessitando de proteção a ponto de mandar destruir, no registro do “New York Times”, “centenas de horas de vídeos” gravados com tortura? Não é a ralé que executou o “serviço” quem tem a autoridade para mandar Rodriguez passar por cima até, supostamente, da Casa Branca. Quem tem tal autoridade são os mandantes, ou seja, W. Bush e Richard Cheney. Se mostradas ao mundo essas cenas de tortura, a conclusão pertinente seria que W. Bush e Cheney – os mandantes – são criminosos de guerra, torturadores. Ou, como disse uma dessas “fontes” das quais o NYT é tão íntimo, as cenas causariam “grande comoção”. Uma coisa é ouvir falar da tortura; outra, vê-la “ao vivo e a cores”. Que o diga Abu Graib. Acionado judicialmente, ou por requerimento dos parlamentares, o governo Bush negou sempre a existência dos vídeos que agora confessou ter destruído.

Segundo Kiriakou, que foi agente da CIA durante 14 anos e operou no Paquistão de 1998 a 2002, a tortura em Zubaidah foi cometida por “comandos aposentados contratados pela CIA”. Blackwater? Baleado na operação de captura, o paquistanês chegou a estar em coma; o interrogatório começou já no hospital, mas nessa fase, na qual Kiriakou participou, não houve tortura segundo ele. Depois, o norte-americano voltou a Washington, para outras missões, mas seguiu acompanhando o caso. Zubaidah, de acordo com jornais dos EUA, havia sido levado clandestinamente para uma prisão secreta da CIA na Polônia. Foi ali que ele foi submetido ao “water-boarding”. No dia seguinte, conforme Kiriakou, Zubaidah contou aos torturadores que havia sido “visitado na cela por Alá”, que o havia orientado “a colaborar”.

XÍCARA DE CHÁ

Pela narração, parece que os torturadores levaram a sério. E a partir daí, para evitar a tortura, Zubaidah falou pelos cotovelos qualquer coisa que ele percebia que era aquilo que seus algozes queriam ouvir, como contou aos seus advogados depois que foi levado para Guantánamo, no final do ano passado. A CIA alega que foi a partir de Zubaidah que teria chegado aos “masterminds” dos ataques ao navio de guerra USS Cole, no Iêmen, e do 11 de Setembro, respectivamente Abd al-Rahim al-Nashiri e “KSM” – Khalid Sheik Mohamed. Este teria batido o recorde de demora para falar no “water-boarding”: dois minutos. Mas desde que começou, bastava uma xícara de chá para falar. Arrumou uma fábula atrás da outra para entreter seus “inter-rogadores”, só faltando confessar o assassinato de Papai Noel. (Talvez tenha confessado e ainda não fomos informados). Está também em Guantánamo atualmente. Quanto ao ex-agente Kiriakou, registre-se que sua entrevista não é propriamente uma denúncia da CIA ou negação cabal da tortura, embora chegue à admissão de que “waterboarding” é tortura.

ANTONIO PIMENTA

Hora do Povo

Rizzolo: Muito embora, a Casa Branca afirme que os Estados Unidos não praticam tortura, silenciou sobre o escândalo dos vídeos de interrogatórios destruídos pela CIA. “O que posso dizer é que todos os interrogatórios foram legais e que sempre prestamos contas ao Congresso dos Estados Unidos”, disse a porta-voz Dana Perino. “Os Estados Unidos não praticam tortura”, afirmou. O ex-agente da CIA John Kiriakou confirmou que, durante interrogatórios de supostos membros da rede terrorista Al Qaeda, foi aplicada a “técnica do afogamento”. O que mais dizer ? Alegar que essa técnica era necessária ? Aonde esta os princípios de Direitos Humanos tão apregoados pelos EUA ? A verdade é que hoje os EUA vivem uma crise de ética, de moral, e de valores jamais vivenciados pelo povo americano. Essa é a democracia republicana. Uma beleza , não ?