Na crise, exportadores também perdem, apesar da alta do dólar

A alta do dólar nos últimos meses não tem compensado a queda do preço das commodities no mercado internacional, o que prejudica exportadores brasileiros, segundo economistas.

Em situações normais, a desvalorização do real deixaria os produtos brasileiros mais competitivos no exterior, o que poderia acelerar as exportações. No entanto, a crise derrubou, em proporção maior, a demanda por algumas commodities.

O preço da soja em grãos, por exemplo, caiu 33% entre 30 de setembro e 30 de outubro na Bolsa de Chicago, passando de US$ 13,94 por bushel (unidade de medida que equivale a 27,2 kg) para US$ 9,34 (veja gráfico abaixo). Já o dólar teve uma alta de 10,5% no mesmo período, de R$ 1,906 para R$ 2,106.

A valorização da moeda americana em relação ao real “não tem compensado nem a queda do preço (das commodities) nem a diminuição da renda (nos países desenvolvidos)”, afirma o economista André Sacconato, da Tendências Consultoria Integrada.

As commodities agrícolas, que vinham subindo fortemente neste ano até julho, passaram a cair com força depois da intensificação da crise global, a partir de setembro. Em alguns casos, os preços desceram para patamar inferior ao do ano passado.

A soja em grãos terminou 2007 cotada a US$ 11,99 o bushel em Chicago, nos contratos para janeiro. O preço foi subindo e encerrou junho em US$ 16, o que representa uma alta de 34% em seis meses. Desde então, registrou uma queda de 41,8% em apenas quatro meses (até 30 de outubro) e de 22,1% no acumulado do ano.

“A questão agora é saber em que ponto vão parar os preços e a quantidade exportada”, afirma Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores. “Não dá para saber se esse é o preço definitivo. O mercado pode não estar representando bem o que vai acontecer.”

Ele acrescenta que cada commodity deve reagir de forma diferente em relação à alta do dólar. Vai depender, entre outros fatores, do impacto que o dólar terá no preço dos fertilizantes.

Mineração
No caso do minério de ferro, o preço pode cair pela primeira vez em sete anos. “Agora, há quem fale em 0% (de variação no preço para o ano que vem), outros falam em queda de 20%”, afirma Faria.

O preço do minério de ferro deve refletir, em menor grau, a queda do preço do aço, de acordo com Faria.

Na última sexta-feira (31), a Vale anunciou a redução do ritmo de produção da commodity. O economista Paulo Esteves, da Gradual Corretora, considera “positiva” a decisão da companhia, pois pode ajudar a segurar o preço do minério de ferro.

“O setor de mineração é oligopolizado. O que a Vale está fazendo é o que a Opep faz com o petróleo.” Ele se refere às decisões da Organização dos Países Exportadores de Petróleo de diminuir a produção da commodity quando os preços caem. “A Vale tem força para isso”, afirma.

Indústrias
Os exportadores de produtos manufaturados tendem a sofrer mais que os de commodities agrícolas, segundo o economista Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios.

“O setor agrícola é mais estruturado e tem linha oficial de crédito. Já para comprar avião, é preciso um financiamento especial. Produtos com maior valor agregado dependem mais de financiamento obtido pela própria empresa.”

As montadoras de automóveis instaladas no país também devem ser afetadas de forma mais significativa pela crise internacional, na avaliação de Leite. O motivo é que o Brasil exporta veículos para países desenvolvidos, principalmente os da Europa.

Leite ressalta, no entanto, que “o problema (dos exportadores brasileiros) é momentâneo e será resolvido”.

Folha online

Rizzolo: Realmente a alta do dólar não foi suficiente para compensar a queda do preço das commodities, e este problema toma dimensão na medida em que envolve diretamente a produção de grãos no Brasil. O fato de a Vale ter anunciado a redução do ritmo de produção da commodity, significa que existe uma pressão da própria empresa em fazer subir o preço do minério no mercado internacional, e essa decisão não está diretamente relacionada coma crise. A verdade é que a escassez de crédito irá afetar a economia real com mais intensidade em 2009.

A dificuldade na obtenção e crédito e as incertezas do cenário econômico devem produzir uma retração relevante na importação de bens de capital e insumos básicos compensando o recuo das exportações. Já em relação à inflação, a tendência global é de um efeito deflacionário e o Brasil não tem porque ser uma exceção. Os juros tendem a continuar elevados mesmo com as evidências de que a ação do BC foi absolutamente correta. Vamos ver 2009, pelo cenário promete ser um ano difícil.

“Compra” da Xstrata maquia desnacionalização da Vale

HSBC e Santander colocaram à disposição US$ 50 bilhões para ambevizar a Vale, avaliada em US$ 120 bilhões. Outros US$ 30 bilhões seriam pagos em ações, com direito a voto, aos controladores da mineradora anglo-suíça

O governo federal poderá vetar a aquisição da mineradora anglo-suíça Xstrata pela Vale do Rio Doce. Pela proposta que está sendo gestada pela direção da Vale, conforme divulgada pela imprensa, a empresa corre o risco de ser desnacionalizada e ficar pendurada em bancos e especuladores estrangeiros. O governo considera o negócio prejudicial aos interesses do país.

Para concretizar a compra, a Vale, avaliada em US$ 120 bilhões, precisaria entre US$ 70 bilhões e US$ 100 bilhões. De acordo com o jornal londrino “Financial Times”, já está acertado que US$ 50 bilhões seriam financiados por bancos estrangeiros tais como o HSBC, Santander, Credit Suisse, Citigroup, BNP Paribas, Barclays e RBS. O restante, cerca de US$ 30 bilhões, seria obtido através da transferência de ações preferenciais da Vale aos controladores da Xstrata.

O principal acionista da Xstrata, a trading Glencore, seria beneficiado com as ações da Vale, além dos demais acionistas da mineradora anglo-suíça, em sua maioria especuladores como a Axa Investments, Alliance Bernstein, Black Rock. Caso a negociação seja concretizada, significaria a transferência para os estrangeiros de grande parte do capital da empresa.

Segunda maior mineradora do mundo e a primeira na produção de minério de ferro, a Vale é estratégica para o desenvolvimento do país. Atualmente, as ações ordinárias representam 60% do capital total da Vale do Rio Doce, e as preferenciais (PN), 40%. O detalhe é que as ações preferenciais da Vale são da classe A, que dão direito a voto.

Para preservar a empresa da desnacionalização e entrega do subsolo nacional aos estrangeiros, basta os representantes do BNDESPar e da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) vetar a negociação no Conselho de Administração da Vale. O governo conta com uma “golden share” (ação especial) que garante poder de veto em algumas situações, entre elas em relação ao aumento de capital estrangeiro na companhia.

Na segunda-feira, o Conselho de Administração começou a analisar a operação. O presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, disse que “é só um estudo pra ver realmente se fecha nas condições, se é factível, se tem geração de caixa, esses detalhes todos. Depois, na decisão, [os representantes do] governo tem poder [pra resolver]”, disse ele. O Bradesco é acionista da Vale e participa do conselho através da Bradespar.

O negócio da Vale com a Xstrata está sendo comparado com o da AmBev, que resultou na desnacionalização da principal indústria cervejeira brasileira. Em 1999, Brahma e Antarctica anunciaram fusão e criação da AmBev, sendo aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no ano seguinte. Mais tarde, o processo de desnacionalização surgiu maquiado por uma campanha que dava conta de que as cervejas brasileiras ganhariam o mundo através de uma associação com a empresa belga InterBrew. Mais ainda, de que a AmBev seria a dona da InterBrew. O que ocorreu foi o contrário. Com a dita “fusão”, foi criada a belga InBev, que passou a controlar a AmBev e monopolizar o mercado nacional de cerveja.

LUIZ ROCHA
Hora do Povo

Rizzolo: O governo federal deverá acompanhar essa negociação de perto, para tanto, os representantes do BNDESPar e da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) poderão vetar a negociação no Conselho de Administração da Vale. O problema , é que o mesmo poderá ocorrer como na Ambev, quando desnacionalizaram da principal indústria cervejeira brasileira, só que neste caso, não trata-se de cerveja, mas de subsolo nacional. A Vale é a segunda maior mineradora do mundo e a primeira na produção de minério de ferro. Muito embora setores consevadores dizem que isso é “nacionalismo bobo”, não é verdade; todo cuidado é pouco quando se trata de subsolo e produção de minério de ferro, neste caso não estamos falando de bebidas. Contudo, entendo que não há motivos para maiores preocupações, agora, nacinalista todo brasileiro tem obrigação de ser, sem fanatismo, é claro.