O caminho das pedras – Coluna Carlos Brickmann

Dilma ou Lina: quem fala a verdade?

Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal, diz ter sido chamada pela ministra Dilma Rousseff e recebido ordens para “agilizar” a investigação sobre as empresas da família Sarney. Lina entendeu que “agilizar” era encerrar e enterrar o inquérito. Seria simples para Dilma explicar que só queria que as investigações fluíssem sem obstáculos. “Agilizar” era manter o inquérito fora das gavetas.

Dilma preferiu a negativa total: disse que não chamou a secretária e não teve qualquer conversa com ela. Com isso, criou as condições para a polêmica que se inicia, e que deve ditar os acontecimentos em Brasília nos próximos dias, dando fôlego a uma oposição que parecia conformada à inatividade: a realização ou não do encontro pode ser provada, com testemunhos, vídeos, registros, planilhas.

Dilma já teve alguns problemas ao descrever certos fatos – o mestrado que não era mestrado, o doutorado que não era doutorado, o dossiê contra Ruth Cardoso que primeiro não existia e depois se transformou em banco de dados, o caso VarigLog – e está reagindo com tremenda agressividade, enquanto Lina Vieira fala com toda a calma. Assim, o duelo se inicia com vantagem para a ex-secretária.

O primeiro-ministro britânico Winston Churchill dizia que a verdade é tão preciosa que precisa ser protegida por um muro de mentiras. Mas ele se referia à guerra. O presidente americano Richard Nixon caiu pelo escândalo de Watergate. Mas não foi por invadir o comitê adversário: foi por mentir sobre isso.

Duelo no Congresso

A tropa governista vai lutar para impedi-la, mas há boas probabilidades de que a ministra Dilma e a ex-secretária Lina sejam convocadas para acareação por uma comissão permanente do Senado. E Dilma não gosta de ser contestada.

Os nomes

A chefe de gabinete da ministra Dilma, que nega o encontro, é Erenice. A chefe de gabinete da ex-secretária Lina, que confirma o encontro, é Iraneth. Brasília é rica nesse tipo de nome: Francenildo é o caseiro que derrubou o ministro Palocci. E o motorista que contribuiu para derrubar Collor é Eriberto.

Morena Marina

O jornalista Ricardo Kotscho, velho conhecedor de Marina Silva, acha que ela já tomou a decisão de deixar o PT e sair candidata à Presidência da República pelo PV. Não é para ganhar (embora surpresas sempre possam acontecer), mas para trazer à campanha temas importantes da área ambiental. Marina tem tarefas complicadas: fazer propaganda com pouco tempo de TV, levantar dinheiro, mobilizar um partido até agora inexpressivo, enfrentar a hostilidade do presidente Lula (que a chama de “samba de uma nota só”). Mas o Samba de Uma Nota Só fez sucesso. E, se Marina fizer sucesso, tira votos importantes do PT.

Marina Morena

O governador paulista José Serra, PSDB, está feliz com Marina, achando que será beneficiado por ela. Talvez; mas, com Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima (seu nome completo) candidata, Serra deixa de ter o apoio do verde Fernando Gabeira, importante aliado no Rio. E pode até entrar na linha de tiro de Marina: o Rodoanel, que contorna a capital, tem problemas com ambientalistas.

Mais do mesmo

O Brasil já tem 28 partidos políticos: o Partido da Pátria Livre acaba de conseguir registro. Até agora, o PPL se chamava MR-8 e estava abrigado no PMDB, sob o comando do ex-governador Orestes Quércia. Na verdade, este era o segundo MR-8: o primeiro, que participou da luta armada, era o grupo do hoje ministro Franklin Martins. O PPL deve apoiar a candidatura presidencial de Serra.

Ex-ministros de Lula

O Governo Federal fica com nova cara: de sete a onze ministros e o presidente do Banco Central devem sair para concorrer às eleições de 2010. O prazo fatal é abril, mas a tendência é que saiam até o fim do ano, para organizar a campanha e para dar ao presidente Lula mais tempo para reorganizar a administração. Os primeiros a sair devem ser José Múcio, para o Tribunal de Contas da União, Tarso Genro, que quer comandar a luta contra Yeda Crusius no Rio Grande do Sul, e Nelson Jobim (que, conforme a direção dos ventos, pode entrar em qualquer das campanhas presidenciais, já que é grande amigo de Serra). Saem também Geddel Vieira Lima (Governo da Bahia), Hélio Costa (Governo de Minas), Alfredo Nascimento (Governo do Amazonas), Henrique Meirelles (Governo de Goiás, ou Senado), Dilma Rousseff (Presidência da República). Sem destino tão definido, mas sempre pensando em eleições, devem sair também Carlos Luppi, Patrus Ananias e Fernando Haddad. Em princípio, serão substituídos pelos secretários-gerais. Um político não aceitaria desistir da eleição por apenas um ano no cargo.

Yankees, come here!

Alguns governos latino-americanos – inclusive o brasileiro – têm idéias divididas em política externa: querem os EUA fora da América Latina, no caso da Colômbia, mas querem que os EUA intervenham em Honduras. Lula prometeu falar com Obama sobre Honduras. É a volta – ou meia volta – dos ianques.

Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.