Congresso em desencanto

Lembro dos anos 70 quando surgiu uma obra de caráter religioso denominada Universo em Desencanto, de um conteúdo filosófico interessante. Sem querer fazer uma analogia do Congresso Nacional com está doutrina – o que seria uma afronta à espiritualidade! – me ocorreu o título deste artigo, pelo impacto realista na caracterização da matéria e seus efeitos no universo.

Na verdade, os acontecimentos ocorridos no nosso universo político nos últimos meses, têm nos demonstrado a estirpe dos políticos que em função da democracia representativa, são eleitos para nos representar. É claro que na sua maioria, independentemente de partido, são políticos profissionais que fazem uso da máquina partidária e que pela estrutura e interesses próprios e dos partidos, não promovem espaço para novos nomes que nos serviriam de opção política. Esse defeito parlamentar faz do quadro político brasileiro uma mesmice de nomes, de atores contumazes, de atos de improbidade pública e que por terem a certeza de que serão os mesmos candidatos nas próximas eleições, deixam o povo e a sociedade sem alternativa.

Dessa forma, restam aos idealistas, os pequenos partidos; estes sem recursos, sem tempo na TV e com pouca permeabilidade política. Assim, com a alma inconformada, novos nomes abandonam a disputa eleitoral, deixando a terra ainda mais fértil aos que dominam o cenário político nacional. Vivemos hoje uma situação no país onde a oposição se mistura com a ética da base aliada e na aferição das posturas dos bons costumes observamos que pouca diferença há entre os representantes do povo; a saída para os impasses acusatórios de alguns, acaba sendo sempre um ” acordão”, pois na verdade todos que praticam os atos reprováveis têm “telhado de vidro” e assim envergonham o Congresso Nacional sob o olhar resignado do povo brasileiro.

Com efeito, sem uma mudança na estrutura partidária atual, aliada a uma real possibilidade de o eleitor conhecer novos nomes, oferecendo maior visibilidade na campanha daqueles que se socorrem dos pequemos partidos, se laçando como uma nova opção ética, honesta, patriótica, disposta a construir um novo paradigma de moralidade no Congresso Nacional, sempre estaremos reféns daquele enorme grupo de profissionais da política, onde os interesses da sociedade sempre são subjugados pela má-fé vergonhosa que impera no quadro político da nossa pobre democracia.

Portanto, nos resta de forma imperiosa, a mudança, sob pena de relembrarmos a frase de Simone de Beauvoir, filósofa francesa que afirmou “O mais escandaloso nos escândalos é que nos habituamos a eles”.” Reconstruir um alicerce moral e ético na política brasileira é tarefa da sociedade. Refazer um universo democrático que está enfraquecido é, enfim, ter a esperança de reconstruir um Congresso que se encontra em desencanto.

Fernando Rizzolo

Para Lula, Mercadante cometeu grave erro político

BRASÍLIA – Em longa e dura conversa com o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), na noite de quinta-feira,20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou do petista apoio às decisões do partido e do governo, disse que não admitia ser pressionado e distribuiu broncas. Irritado com a atitude de Mercadante de anunciar pelo twitter – site de microblogs – que apresentaria ontem sua renúncia à liderança do PT, em caráter irrevogável, Lula afirmou que, além de fazer jogo individual, o senador estava cometendo grave erro político.

“Não pense que a militância do PT vai entender isso”, esbravejou ele, no Palácio da Alvorada. O presidente não escondeu de Mercadante que ficou furioso com o fato de o petista ter anunciado que conversaria com ele, jogando a solução do imbróglio em seu colo. Foi por isso que deixou “vazar” a informação de que não apenas não ligava para a renúncia como aprovava a escolha do senador João Pedro (PT-AM) para a vaga. Suplente do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, João Pedro é amigo de Lula e preside a CPI da Petrobras.

“Em política não existe a palavra irrevogável”, disse Lula a Mercadante. Apesar do tom amistoso da nota em que o presidente pede ao líder do PT para não abandonar a liderança do partido, os dois bateram boca em mais de uma ocasião durante a conversa de cinco horas, que entrou pela madrugada de sexta-feira.

Os termos da carta de Lula a Mercadante foram acertados naquela noite para dar argumento ao recuo do senador. O texto passou pelo crivo do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. Antes de viajar para o Acre, na manhã de ontem, o presidente telefonou para o petista e o autorizou a ler a carta da tribuna do Senado. “Está tudo bem. Tivemos uma boa conversa”, afirmou ele, mais tarde, a auxiliares.

Na quinta à noite, porém, Lula disse a Mercadante que sua renúncia seria imperdoável. No seu diagnóstico, além de jogar combustível na crise que pôs em rota de colisão o governo, a bancada do PT e a direção do partido, o gesto daria munição aos adversários e seria interpretado como resultado da luta entre éticos e não-éticos do PT sobre o destino do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Diante do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), que também participou da conversa, Lula afirmou que Mercadante não tinha o direito de levar mais desgaste para o partido. Disse, ainda, que um líder não podia jogar a toalha nem desistir de sua missão na primeira dificuldade.

“O presidente não fez um apelo. Fez, na verdade, um chamamento à relação de 30 anos que tem com Mercadante”, contou Berzoini.

O senador reagiu às cobranças de Lula e também foi duro nas críticas. Afirmou que o PT e o governo “erraram muito” ao recomendar o arquivamento de todas as denúncias contra Sarney. Garantiu, ainda, que não estava jogando para a plateia nem adotando posição dúbia, de olho na sua própria reeleição, em 2010, ao defender a abertura de investigações no Senado.

Mercadante argumentou que a maioria dos senadores sempre defendeu o afastamento de Sarney e que não leu a nota na qual Berzoini orientava os três integrantes do Conselho de Ética a salvar Sarney porque aquele enquadramento feria os seus princípios. “O senador é um homem de rompantes, mas todos nós sabemos que ele é um importante quadro político”, afirmou um ministro ao Estado.

Rizzolo: Observem que existe um desprezo por parte do PT com a opinião pública, pisoteiam a ética e pouco se importam se os atos do partido contrariam grande parte dos petistas que ainda sustentam os ideais da época de sua fundação. Com certeza os que estão se retirando- e não foi o caso da vergonhosa conduta de Mercadante – constituem idealistas, e ainda não perderam o verniz ético, de honestidade, e de compromisso com seu eleitorado e a sociedade em geral. Essa postura com certeza trará grande prejuízo a imagem do PT, e essa arrogância presidencial em função da popularidade, de mandar e desmandar naqueles que não digerem a podridão, logo enfrentará a nua realidade da inviabilidade eleitoral de Dilma, uma real utopia política, que só prospera na mente do presidente.

Saída de Marina Silva do PT repercute em jornais estrangeiros

A saída da senadora Marina Silva (AC) do PT repercutiu na imprensa estrangeira, que destacou a possibilidade da ex-ministra disputar as eleições presidenciais de 2010.

Os jornais norte-americanos “Washington Post” e “New York Times” salientaram que Marina é conhecida por “proteger a floresta Amazônica contra o desenvolvimento”, e que sua saída do PT é uma perda para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no momento em que ele tenta impulsionar o PT para as eleições de 2010.

Já o britânico “The Guardian” destacou que, após semanas de especulação, Marina decidiu deixar o partido afirmando que os políticos falharam em não dar atenção o suficiente para a causa ambiental.

Os apoiadores da ex-ministra, salientou a publicação, esperam que, ao concorrer à Presidência em 2010, Marina possa “colocar o ambiente de volta à agenda política do maior país da América do Sul”.

O também britânico “Financial Times” lembrou que a senadora provavelmente “dividirá os votos pró-governo naquela que deveria ser uma corrida entre os candidatos do governo e da oposição”.

Para o jornal, sua saída deve agravar a “crise crescente” que assola o governo e o PT. O Times citou o descontentamento dos senadores petistas Flávio Arns e Aloizio Mercadante, e afirmou que, ao apoiar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Lula “dividiu” o partido.
folha online

Rizzolo: A crise do PT já tomou corpo na visão dos analistas internacionais. E não é por menos, a partir do momento em que um partido de luta histórica cerra fileira na defesa da amoralidade no Congresso, a implosão é certa. Assim com certeza ficará no partido apenas aqueles que compactuam com a falta de ética. Os demais farão como Marina Silva, o senador Flávio Arns (PR), e outros que ainda virão.