Comércio esperava queda de pelo menos dois pontos na taxa Selic

O presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Abram Szajman, considerou que o Copom deveria ter sido “mais ousado” no corte da taxa Selic. “A redução foi insuficiente. O cenário internacional está pior do que o BC tinha por hipótese meses atrás. Outros Bancos Centrais já reduziram suas taxas para algo próximo de zero. Nós ainda estamos em dois dígitos”, afirmou.

Szajman disse que esperava queda de pelo menos dois pontos percentuais da Selic. “A despeito da retração econômica no quarto trimestre de 2008, apontada pelo IBGE, o Brasil tem amplas condições para superar no curto prazo esta crise. Mas o Banco Central precisa entender que a hora é agora. Não podemos deixar o País entrar em recessão. Se isso ocorrer, a autoridade monetária será duramente criticada pela sociedade por ter retardado o processo de redução da Selic”, destacou.

Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, a redução foi “tímida” a decisão do Copom, “pois os dados relativos ao desempenho da economia indicam a necessidade de medidas mais profundas para evitar que a economia brasileira entre em recessão”.

Hora do Povo

Rizzolo: As críticas generalizadas em relação ao tímido corte nas taxas de juros ecoam por toda a parte. O presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Abram Szajman, em quase em tom de desabafo, nos dá uma idéia clara da dimensão do que poderíamos chamar de ” indução a uma maior estagnação ” face à timidez da medida adotada pelo Banco Central.

Com a escassez de crédito e a crise, São Paulo perdeu 38,6 mil empregos, ante 65,1 mil vagas criadas no mesmo mês em 2008, aponta o Observatório do Emprego e do Trabalho. Na verdade o comércio extinguiu mais de 12 mil postos de trabalho, um número altíssimo que denota a proporção e efeitos de um pré recessão.

Decisão do Copom frustra empresários e trabalhadores

SÃO PAULO E BRASÍLIA – Embora esperada pelo mercado, a manutenção pelo Banco Central da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano recebeu críticas do empresariado e de sindicalistas, que ainda tinham esperanças de que a redução poderia ter início neste mês, para diminuir os impactos da crise internacional. A decisão, na visão deles, frustra as expectativas de mudança do cenário para o início de 2009.

Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a crise seria amenizada se o Copom tivesse optado por um corte na taxa de juros em vez de mantê-la inalterada. ” perda de intensidade da atividade econômica, em virtude dos efeitos da crise financeira internacional e das dificuldades do mercado de crédito, justificaria plenamente uma ação nesse sentido.”

Na opinião do dirigente, um corte na taxa de juros “acompanharia inclusive a política monetária de diversos países nesse momento de necessidade de ações coordenadas em escala internacional”. Para o presidente da CNI, um juro menor amenizaria os efeitos da crise global sobre o nível de atividade e emprego domésticos, sem prejuízo do controle inflacionário. Além disso, daria consistência aos esforços de preservar as condições de liquidez e de acesso das empresas ao crédito.

O presidente da Ford, Marcos de Oliveira, gostaria que os juros tivessem diminuído, mas acredita que em janeiro isso deve ocorrer. “Se não cair, será um erro estratégico do Banco Central que pode ter impacto no crescimento da economia em 2009. No mundo inteiro as taxas estão caindo. No Brasil, a preocupação com a inflação não existe mais, diante da retração do mercado.”

Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) considerou a decisão como ?dissociada da realidade econômica mundial?. Em sua avaliação, mesmo parada, a Selic subiu até 2% nos últimos meses, na comparação com os juros cobrados nos EUA e na Europa. “Enquanto isso, o nosso BC ignora o risco do contágio pela recessão mundial e se preocupa com o perigo mais imaginário do que real da inflação.”

“O Brasil perdeu uma oportunidade de dar uma injeção de ânimo e de sinalizar que está preocupado com a desaceleração da economia”, afirmou o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida. “O BC contempla a economia no padrão do terceiro trimestre, de um glorioso 6,8%. Mas a economia já transitou para a desaceleração e está beirando a recessão.”

Na opinião de Almeida, com a manutenção da taxa de juros, o governo terá de tentar estimular a economia com mais gastos públicos. “O Brasil vai ter de fazer política fiscal e tomara que faça gastos de melhor qualidade, que é o investimento.”

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, chamou de desastrosa a decisão do Copom. “Lamentamos a decisão, que só serve para impedir o acesso ao crédito, permitir que os bancos continuem alimentando-se de taxas abusivas, aumentando seus lucros, enquanto a produção segue com o freio de mão puxado diante das incertezas geradas por uma política econômica distante da realidade e das necessidades do País.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Rizzolo: Realmente é frustrante a decisão do Copom, e não existe uma lógica econômica plausível para a manutenção da taxa de juros neste patamar. Com efeito, esta decisão vem na contramão das medidas econômicas adotadas pela maioria dos países. O corte nas taxas de juros, é medida de protocolo no manejo das conseqüências da crise que se aproxima com maior rigor no próximo ano. Bem verdade é o fato, de que a brusca desvalorização do real, teria um efeito no componente inflacionário, contudo isso é compensado pela escassez de crédito e pela diminuição dos preços das commodities.

Muito se tem falado na estranha lógica macroeconômica das decisões do Copom, mas acredito que à parte as ilações de conteúdo ideológico, que com certeza não deixam de ter suas argumentações acolhidas, havia espaço para um corte nas taxas, até porque o efeito da medida é lento e surtiria seus efeitos só nos próximos meses, que poderão ser tenebrosos.

O interessante a observar na reunião de ontem, foi a demora do comitê para a divulgação do resultado, sinalizando que houve muita discussão apesar da decisão unânime. É uma pena que o BC acolha sempre os interesses dos especuladores e banqueiros de plantão, aliás são eles que na sua maioria compõem e influenciam as decisões do Copom. Já o presidente Lula, como sempre terá a desculpa da autonomia do BC. E assim caminhamos..