Coluna de quarta-feira, 29 de julho
Estudos dos principais bancos brasileiros mostram que o país saiu da recessão. O profeta da crise, Nouriel Roubini, o Sr. Apocalipse, diz que a recessão mundial termina até o fim do ano. Ótimo – mas chegou a hora de pagar a conta.
Não é uma questão apenas do Brasil: é problema global. Não é possível jogar dois trilhões de dólares na economia, sem aumento equivalente de produção, e esperar que não haja inflação. Haverá inflação. E seu papel será equilibrar o volume de dinheiro existente no mercado com aquilo que for produzido. Não há condições de aumentar a produção tão rapidamente quanto se aumentou a quantidade de dinheiro disponível; o dinheiro, portanto, vai perder parte de seu valor.
No país que mais colocou dinheiro no mercado, os EUA, o dólar está caindo. Cai por dois motivos: primeiro, porque há dólar demais para pouco produto; segundo, porque é do interesse americano que o dólar caia. Com o dólar mais baixo, as imensas reservas de dinheiro da China se diluem; com o dólar mais baixo, os EUA terão produtos mais baratos, e poderão exportar mais e importar menos. Outros países – como a China, que se estruturou para vender ao mundo desenvolvido – contribuirão involuntariamente para que os EUA paguem a conta.
O Federal Reserve americano anuncia que apoiará o fortalecimento do dólar. Bobagem: não tem como recolher o brutal excedente de dinheiro que existe no mercado. E, aliás, não tem a menor intenção de fazê-lo. Se os americanos podem transferir parte da conta a outros países, por que irão pagá-la sozinhos?
Problemas mundiais
Uma idéia dos problemas econômicos, que vão virar inflação, de alguns dos principais países do mundo: os EUA, que tinham déficit público de pouco mais de 3% do PIB no ano passado, têm agora algo como 13%; na Inglaterra, o déficit público saltou de pouco mais de 5% para 14%; a Alemanha, sempre tão contida, passou de 0,3% para quase 5%. E o da Itália dobrou, estando hoje em 5%.
Problemas brasileiros
O Brasil suportou bem a crise, não perdeu reservas internacionais, manteve a inflação sob controle e a rede de proteção social ajudou a amenizar o desemprego. Mas o Brasil também tem um problemaço: a alta dos custos fixos. As despesas de pessoal cresceram quase um ponto percentual; os gastos do Governo subiram dois pontos percentuais. O custo do Governo é uma bomba-relógio que exige cuidado e parcimônia nos gastos para evitar o crescimento da inflação interna.
Nhô ruim, nhô pior
O ministro da Justiça, Tarso Genro, está convencido de que é o único candidato petista em condições de vencer as eleições no Rio Grande do Sul. Mas quer, antes de deixar o cargo, assegurar sua substituição por alguém da mesma corrente do PT, a Mensagem ao Partido. O candidato que sugere é o deputado federal paulista José Eduardo Martins Cardozo.
No Brasil, nada é impossível. Nem mesmo ter saudades de Tarso Genro.
Matador no poder
Mas o problema pior é o da Argentina. O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, líder da oposição ao Governo Kirchner, nomeou um cavalheiro, “Fino” Gonzalez, envolvido com brigadas paramilitares de assassinos e sequestradores para a chefia da Polícia Metropolitana. E se recusa formalmente a substituí-lo.
Má notícia
Os planos de saúde querem mais aumentos. O pretexto agora é a gripe suína.
Chávez, por que no hablas?
O Governo sueco pediu explicações formais ao Governo venezuelano sobre armas que vendeu a Caracas e que foram encontradas em campos da narcoguerrilha colombiana das Farc. É batom na cueca: os foguetes antitanque encontrados com os narcotraficantes têm números de série e foram vendidos à Venezuela pela Saab Bofors Dynamics com cláusula de destinatário final (ou seja, é proibido repassá-los). A Venezuela ainda não respondeu ao pedido do Governo sueco.
Coisa feia
De Danilo Gentilli, do programa CQC, em seus comentários no Twitter:
“Agora, no TeleCine, King Kong, um macaco que depois que vai para a cidade e fica famoso pega uma loira. Quem ele acha que é: jogador de futebol?”
“Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?”
A explicação é razoável e simples: porque a lei proíbe. Racismo é crime inafiançável. Chamar alguém de macaco é considerá-lo inferior a um ser humano – apenas um primata. E é pena ter de explicar isso ao talentoso Danilo Gentilli.
O cardíaco saudável
O militar Manoel Cordero, detido no Rio Grande do Sul enquanto aguarda o julgamento do pedido de extradição feito pelo Uruguai e pela Argentina, que o acusam de torturador, vai muito bem, obrigado. Ficou em prisão domiciliar por, alegadamente, ser cardíaco; mas foi filmado passeando livremente, fumando, e, ao notar que tinha sido visto, correndo muito, em forma física que parecia excelente. O Supremo Tribunal Federal quer saber por que tamanha liberdade.
Carlos Brickmann é Jornalista, consultor de comunicação. Foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes (prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, em 78 e 79, pelo Jornal da Bandeirantes e pelo programa de entrevistas Encontro com a Imprensa); repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S.Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.