Manifestação no centro de Chicago com delegações de 20 estados na terça-feira, 27, exigiu medidas do governo contra os abusos dos bancos com recursos do bailout, e contra os despejos em massa e o corte dos empréstimos para atividades produtivas
Com faixas, cartazes e bandeiras, milhares de sindicalistas e ativistas de 20 estados dos EUA tomaram na terça-feira dia 27 o centro de Chicago, onde se realizava a reunião anual da Associação de Banqueiros Americanos, para cobrar do governo uma ação firme contra os abusos dos bancos com o dinheiro do bailout, os bônus astronômicos, os despejos em massa, o corte dos empréstimos à produção e o desemprego. Manifestantes empunhavam, também, fotos em tamanho natural de executivos dos maiores bancos, como James Dimon, do JP Morgan Chase, o ex do Bank of America, Ken Lewis, e John Stumpf, do Wells Fargo, com os dizeres “banqueiro-ladrão de Wall Street”.
Convocada para ser uma “anti-convenção dos banqueiros”, a manifestação teve sua repercussão ampliada com a indignação que grassou no país inteiro, com o anúncio na semana passada, pelos grandes bancos salvos pelo dinheiro público, de bônus recorde de US$ 140 bilhões, quando é notório de que só não faliram porque houve o bailout. Além da terça-feira, houve atos na véspera e no domingo.
Repudiando o cinismo do “grande-demais-para-quebrar”, os manifestantes bradaram em sua caminhada: “Deixem os grandes bancos falir”. “Nada de bônus”; “bailout para os trabalhadores, não para os bancos”, eles exigiram. Na segunda-feira, a sede de Chicago do Goldman Sachs, o campeão de lucros inflados e bônus obscenos, foi invadida aos brados de “Tome vergonha!” Em meio à multidão, podia-se se ver senhoras com placas: “despejada”.
A manifestação cobrou, ainda, que sejam aprovadas leis para deter a especulação e medidas efetivas de proteção aos cidadãos e ao setor produtivo. Entre os principais oradores, o líder da luta pelos direitos civis, reverendo Jesse Jackson; o presidente da central AFL-CIO; Richard Trumka; a presidente da federação sindical “Vença Agora”, Anna Burger, e a diretora da entidade “Aja Agora”, Denise Dixon.
No primeiro dia, os manifestantes ouviram, também, o senador democrata Dick Durbin e a presidente do órgão federal de garantia às contas bancárias, FDIC, Sheila Bair. O “Showdown in Chicago” foi convocado pela Coalizão Nacional do Povo e pelo Sindicato dos Trabalhadores em Serviços. “O governo precisa mudar suas políticas”, advertiu o reverendo Jackson: “não se trata só dos banqueiros mas das políticas governamentais”. É preciso “dar prioridade aos trabalhadores e aos mutuários, não aos bancos”.
O presidente da AFL-CIO e ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Minas, Trumka, denunciou que “os banqueiros transformaram a economia americana no seu próprio cassino privado”. “Nos levaram à beira da segunda grande depressão, e então esticaram a mão para serem salvos com o dinheiro dos contribuintes”, acrescentou. Ele advertiu aos sanguessugas que “não pusemos vocês de volta aos negócios para que embolsassem bilhões em bônus. Os bônus têm de parar, e é preciso alívio para as hipotecas”.
“A cada 13 segundos” – assinalou Denise – “outra casa vai à execução”, acrescentando que os bancos devem prestar contas “pela destruição que causaram em nossas comunidades”. Após advertir que são esperados mais de 4 milhões de despejos e execuções de hipotecas até 2012, ela afirmou que tamanha devastação “faz do furacão Katrina uma brisa de primavera”.
Muito aplaudido, o presidente do sindicato local dos eletricistas, Armando Robles, que liderou a ocupação da fábrica de portas e janelas República, que garantiu os direitos dos trabalhadores e dobrou a sabotagem do Bank of América. Ele se disse “muito orgulhoso” de seus companheiros de luta, e conclamou: “todos têm de agir, pela dignidade, por respeito, pelas nossas famílias – pela classe trabalhadora”.
Um coro de “Nãos” sucessivos respondeu à indagação da presidente da federação sindical “Mudar para Vencer”, Anna Burger, se os bancos tinham “renego-ciado as hipotecas em atraso”, “emprestado dinheiro às pequenas empresas” ou “financiado a geração de empregos”. Acompanhada por milhares de vozes, ela exigiu: “Basta!”.
A ganância e a desfaçatez com que os banqueiros de Wall Street e sua coorte de executivos estão assaltando o dinheiro público, que supostamente deveria ir para retomar empréstimos e reativar produção e empregos, já preocupa até especuladores do calibre de George Soros. Milhões de desempregados, milhões de famílias sem casa, milhões de aposentados vendo suas poupanças em ações virar fumaça enquanto a ordem na corte é arrebentar a boca do balão. Inflaram a bolsa, retomaram os derivativos, pisaram no acelerador no “carry trade”. Não surpreende que na própria convenção da Associação dos Banqueiros Americanos, onde preponderam pequenos bancos e bancos comunitários, surgiram declarações de que o povo “tem motivos” para estar indignado, e que os pequenos bancos estão bem longe de Wall Street.
ANTONIO PIMENTA
Hora do Povo
Rizzolo: Não resta a menor dúvida que o povo americano não suporta mais o assistencialismo financeiro aos bancos, as medidas do governo contra os abusos dos bancos com recursos do bailout, e contra os despejos em massa e o corte dos empréstimos para atividades produtivas unem o povo americano que pede forma uníssona uma ação decisiva por parte do governo. Para quem nunca regulamentou o mercado financeiro, se ver pressionado dessa forma é algo inesperado.